XXXII Domingo do Tempo Comum
Aproximamo-nos do final do ano litúrgico e, como tal, toda a liturgia ajuda-nos a reflectir sobre a vida nova em Cristo – a ressurreição, a vida na glória celeste.
XXXII Domingo do Tempo Comum
“Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para ele todos estão vivos” Lc 20, 38
Aproximamo-nos do final do ano litúrgico e, como tal, toda a liturgia ajuda-nos a reflectir sobre a vida nova em Cristo – a ressurreição, a vida na glória celeste. Deus desafia-nos a criar, a construir um mundo novo, cada qual a dar o melhor de si nesta construção. O horizonte da nossa vida é a ressurreição.
Esta semana foi marcada, de modo especial, por esse horizonte de ressurreição – convite à santidade, a que cada um assuma o querer ser santo, convite à fidelidade, ser fiéis ultrapassando as maiores dificuldades da vida com o coração cheio do amor de Deus.
Em Igreja fomos também desafiados a termos uma oração muito própria pelos seminários, por aqueles que trabalham nos seminários e ajudam tantos jovens a fazer o seu discernimento vocacional e, claro, a rezar pelos seminaristas que fazem o seu caminho de encontro com Cristo.
Tendo a liturgia, as leituras deste domingo como primeiro ponto de reflexão, olhamos para o elemento central da nossa vida de cristãos - a confiança plena na ressurreição. É a ressurreição que dá sentido à nossa vida, que enche o nosso coração de esperança, de luz e de vida. Dá sentido à nossa vida porque nos torna diferentes, pela esperança, não desanimamos perante a velhice, a doença, o sofrimento, as injustiças… mas, estas circunstâncias são “nada” para nós porque estamos cheios com a certeza da vida eterna. Olhamos para a primeira leitura e vemos o testemunho de fé daquela família, que ao enfrentar a ameaça de morte não se deixam abalar, mas mantêm-se firmes na fé em Deus, porque cada um sente como realmente é valioso, não é insignificante, sentem como cada um é importante para Deus. Deus importa-se contigo, porque és obra das suas mãos. Por isso, presta atenção e lembra-Se de ti com carinho. Precisas de confiar na recordação de Deus: a sua memória não é um “disco rígido” que grava e armazena todos os nossos dados, a sua memória é um coração terno e rico de compaixão, que se alegra em eliminar definitivamente todos os nossos vestígios de mal (ChrV 115). Aqueles jovens torturados sentem no seu coração todo o amor da presença de Deus, um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza, não obriga a estar calado nem silencia, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva (ChrV 116).
É este amor que Jesus nos transmite no Evangelho, um amor que liberta e dá vida. Perante as instigações que lhe são feitas e que põem em causa a vida eterna, Jesus apresenta-nos a ressurreição como a libertação do terreno, dos pensamentos mesquinhos, das pequenas amarras que criamos, da felicidade fácil, das tradições que nos aprisionam. A ressurreição é o momento de vida “porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus”. Como filhos de Deus sentimos a presença de Jesus em cada momento da nossa vida, para o encher de luz. Assim, nunca mais haverá solidão nem abandono. Ainda que todos te abandonem, Jesus permanecerá. Tudo preenche com a sua presença invisível e, para onde quer que vás, lá estará Ele à tua espera (ChrV 125).
Em oposição a este caminho de ressurreição, de vida, temos o mundo que nos seduz, o mundo que nos apresenta as facilidades, as aparências, a superficialidade. O caminho da ressurreição exige entrega, dedicação, doação, compromisso, fidelidade. Por isso, São Paulo pede para que em Cristo os nossos corações se tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. São as boas obras e as “boas” palavras que sustentam em nós a beleza do amor de Deus. Pois, há beleza, para além da aparência ou da estética imposta pela moda, em cada homem e cada mulher que vive com amor a sua vocação pessoal, no serviço desinteressado à comunidade (ChrV 183).
Deus chama-nos ao seu serviço, propõe-nos um caminho, feito de liberdade, entusiasmo, criatividade, horizontes novos, mas cultivando ao mesmo tempo as raízes que nutrem e sustentam (ChrV 184).
O celebrarmos o dia mundial de oração pelos seminários, acolhendo o desafio de São Paulo “Não te envergonhes de dar testemunho de Cristo” (2Tim 1, 8), somos convidados ao discernimento, a fazermos o esforço por reconhecer a própria vocação, o chamamento que Deus nos faz, de uma forma individual e individualizada, na beleza de estarmos ao seu serviço. Este discernimento requer silêncio para deixarmos que Deus nos fale, para O podermos escutar, para podermos sentir aquilo que Deus tem para nos oferecer e que na nossa cómoda distracção não lhe damos caso.
O Papa Francisco alerta-nos que quando se trata de discernir a própria vocação, necessitamos de nos conhecermos a nós próprios e às nossas qualidades. Essas questões devem-se colocar não tanto em relação a si mesmo e às próprias inclinações, mas em relação aos outros, em ordem a eles, para que o discernimento enquadre a própria vida referida aos outros. Por isso, quero lembrar qual é a grande questão: «Muitas vezes, na vida, perdemos tempo a questionar-nos: “Quem sou eu?” E podes passar a vida inteira a questionar-te, procurando saber quem és. Mas a pergunta que te deves colocar é esta: “Para quem sou eu?”» És para Deus, sem dúvida alguma; mas Ele quis que fosses também para os outros, e colocou em ti muitas qualidades, inclinações, dons e carismas que não são para ti, mas para os outros (ChrV 286).
Os jovens da primeira leitura sentem que a sua vida tem sentido na medida em que a dão a Deus e testemunham a presença de Deus no seu coração, transmitindo uma total confiança em Deus e dando um testemunho irrepreensível de esperança e de fé. Ao fazermos um discernimento vocacional devemos ter presente, em nós, que Deus é o amigo presente ao nosso lado e nos acompanha no nosso caminhar.
“Demo-nos a Deus para ir por toda a terra levar o Santo Evangelho.” (SVP)