XXV Domingo do Tempo Comum
A avidez escraviza o homem, desvia-o do fim para que foi criado, torna-o menos humano, sujeito habitado por sentimentos como a angústia, a obsessiva preocupação, a ansiedade, a ganância. E onde está a beleza de uma vida assim? Que triste felicidade!
XXV Domingo do Tempo Comum
Muito para além dos cereais e seus derivados, das carnes e do pescado, das gorduras, dos legumes e da fruta de toda a espécie, o homem alimenta-se de beleza e, naturalmente, procura-a no mundo, na arte, nas pessoas, na relação com os outros e com Deus, Suprema Beleza. A contemplação do belo, mesmo quando racionalmente inexplicável, é fonte de prazer, estímulo para as nossas atividades diárias, causa de outros sonhos e de uma incessante busca do que está para além da realidade visível. Assim, a afirmação de Jesus - «não podeis servir a Deus e ao dinheiro» - não é apenas uma recomendação de carácter moral que nos lembra a impossibilidade prática reconciliarmos a adoração a um ídolo perecível como o dinheiro e, ao mesmo tempo, professar o Primeiro Mandamento da Lei – «amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento».
O posicionamento do Mestre é um alerta para não cairmos na armadilha de nos contentarmos com felicidade barata, julgando que a alcançamos quando acumulamos bens materiais, recorrendo por vezes a atalhos de esperteza e de astucia, atitudes típicas de um corrupto. A avidez escraviza o homem, desvia-o do fim para que foi criado, torna-o menos humano, sujeito habitado por sentimentos como a angústia, a obsessiva preocupação, a ansiedade, a ganância. E onde está a beleza de uma vida assim? Que triste felicidade!
Sabemos, no entanto, que o dinheiro em si não é mau. Torna-se perigoso quando ocupa o território reservado a Deus, exigindo total fidelidade. Torna-se perigoso quando aponta para caminhos diferentes: se Deus me diz, «ama o teu irmão», o ídolo do dinheiro insinua o contrário, «explora-o o mais que puderes».
Ainda assim, não obstante os riscos, podemos inferir, a partir da exortação final de Jesus («arranjai amigos com a riqueza») uma finalidade legitima no uso dos bens acumulados: «se formos capazes de transformar riquezas em instrumentos de fraternidade e solidariedade, quem nos receberá no Paraíso não será apenas Deus, mas também aqueles com os quais partilhamos, administrando bem o que o Senhor colocou nas nossas mãos». E essa é uma louvável esperteza!
Numa altura em que tanto se fala da instabilidade dos mercados financeiros e em que sofremos as consequências de uma crise causada pela guerra e por aqueles que apenas servem o deus do dinheiro, façamos de Deus a nossa maior riqueza. O resto virá por acréscimo. Coragem!