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Lições bíblicas

XXIII Domingo do Tempo Comum

As estatísticas falam de mais de mil milhões de católicos no mundo inteiro. Mas quantos destes batizados são verdadeiramente discípulos de Cristo? Quantos O seguem apenas quando tudo vai bem, mas deixam de O acompanhar quando vem o cansaço e o sacrifício, quando têm assuntos “importantes” a tratar...

XXIII Domingo do Tempo Comum

1. Olhando a certos momentos e lugares, como em Fátima ou na Praça de S. Pedro em Roma, poderíamos também dizer, como ouvimos no Evangelho de hoje, que grandes multidões acompanham Jesus (cf. Lc 14, 2-5). As estatísticas falam de mais de mil milhões de católicos no mundo inteiro. Mas quantos destes batizados são verdadeiramente discípulos de Cristo? Quantos O seguem apenas quando tudo vai bem, mas deixam de O acompanhar quando vem o cansaço e o sacrifício, quando têm assuntos “importantes” a tratar (cf. Mt 22,35), ou acham a sua linguagem demasiado dura (cf Jo 6, 60.66) e as suas exigências incompreensíveis (cf. Mc 10, 21-22)?

2. O evangelho deste domingo insere-se na grande viagem de Jesus até Jerusalém onde se realizará o dom total de Si para a vida do mundo através da sua Paixão, Morte e Ressurreição. As multidões seguem Jesus, vão atrás dele. No entanto, muitos deles não estão dispostos a seguir os seus passos de fidelidade total a Deus e aos irmãos que se traduz na entrega da vida para que os outros tenham mais vida. Seguem Jesus mas não com as motivações que Ele dá. Também hoje são muitos os que querem seguir Jesus mas não o fazem com as suas motivações, com os valores do Reino de Deus, “reino eterno e universal, reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz” (Pref. Cristo Rei). Pensemos naqueles para quem o cristianismo é apenas um ato social, que recorrem a Deus quando se veem em aflições, que dizem ser praticantes mas cuja vida não se orienta pelos valores do Reino de Deus.

Ante esta situação, Jesus volta-se para nós e diz-nos que segui-lo não é algo para ficar bem na fotografia, mas exige de nós entrega, renuncia e fidelidade à sua pessoa e à sua mensagem. O Senhor não está preocupado com a quantidade mas com a qualidade dos seus discípulos. Por isso, em duas pequenas parábolas propõe que nos sentemos a pensar e discernir para verificarmos a sinceridade do nosso seguimento. Na verdade, ser seu discípulo implica uma escolha refletida, livre e não apenas de entusiasmo momentâneo. Jesus apresenta a quem O deseja seguir como discípulo três condições:

3. A primeira é dar-lhe preferência em relação à própria família (Lc 14, 26), colocá-lo acima dos afetos naturais do sangue. Isto exige desprendimento e sentido das prioridades à luz do Reino de Deus. Quantos são àqueles que até querem segui-lO mas para não entrarem em contraste com a sua família, com os valores transmitidos pela sociedade (alienação do ter, do poder e do prazer), não vivem em fidelidade à sua fé?

A segunda exigência de tomar a cruz e seguir Jesus (Lc 14, 27) é uma das características fundamentais dos discípulos de Jesus. Os cristãos sãos os discípulos do Senhor Crucificado. Foi do lado aberto de Cristo na Cruz que nasceu a Igreja. A Igreja que segue o Senhor Crucificado tem deve ser pobre, não buscar o poder. Os principais beneficiários da sua ação da devem ser os pobres. Uma Igreja que ama o Crucificado tem de amar os crucificados com quem Ele se identifica. A Igreja, peregrina na terra, está chamada a seguir Cristo pelos passos do sofrimento, da paixão e da cruz. Tal como Jesus arriscou a sua vida em defesa dos valores do Reino, assim também a Igreja é chamada a essa dimensão profética. Consequentemente, cada membro da Igreja, corpo místico do Senhor Crucificado, deve seguir o caminho da cruz, o caminho da entrega da vida por amor e fidelidade. A exemplo de Jesus, os seguidores do Senhor Crucificado devem seguir o caminho da entrega da sua vida por amor.

A terceira condição para seguir Jesus prende-se com os bens materiais (cf. Lc 14, 33). Esta exigência relaciona-se com a primeira. Tenho de saber renunciar a uma cultura que afirma que a felicidade está intimamente ligada à quantidade de bens materiais. Há alguns domingos atrás Jesus já tinha advertido: “A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens” (Lc 12, 15). Quem entra na aventura do seguimento de Jesus sabe que a pessoa humana não existe em função dos bens materiais, mas que os bens materiais existem em função das pessoas. Os bens não devem ser algo que nos feche em nós mesmos mas devem servir para socorrer e ajudar os irmãos.

4. Seguir Jesus é algo exigente e comprometedor. Aceitar e viver este projeto de vida é dom de Deus que tem de ser acolhido pela liberdade humana.
Podemos, aqui e agora, fazer nossas as palavras da primeira leitura do livro da Sabedoria: “Quem poderá conhecer, Senhor, os vossos desígnios, se Vós não lhe dais a sabedoria e não lhe enviais o vosso espírito santo?” (Sab 9, 17). Na verdade, neste mundo que de todos os lados nos bombardeia com propagandas opostas aos valores do Reino de Deus, só através do dom da Sabedoria que o Espírito Santo nos concede, e que outra coisa não é que a Sabedoria da Cruz, é que podemos encontrar a verdadeira felicidade pelo caminho de Jesus: “Deste modo foi corrigido o procedimento dos que estão na terra, os homens aprenderam as coisas que Vos agradam e pela sabedoria foram salvos” (Sab 9, 18).

Quem se deixa guiar por esta sabedoria da Cruz consegue ir antecipando neste mundo o reino de Deus. Prova disso é a segunda leitura desta celebração. Foi o Espírito de Deus, a sua sabedoria, que fez descobrir a Filémon que Onésimo não é mais somente um escravo mas um filho de Deus. Onésimo era um escravo em fuga. Paulo acolheu-o, falou-lhe do amor de Jesus, ele converteu-se, foi batizado e é recebido como irmão. Ainda hoje existem muitas formas de escravatura (materialismo, publicidade, droga, álcool a alienação do sexo). Também nós que seguimos o Senhor Crucificado temos de lutar pela libertação do homem antecipando na nossa história o Reino de Deus.

O Espírito de Deus que desde o Batismo e a Confirmação nos é dado para “nos conduzir à verdade plena”, nos faça aderir e seguir mais plenamente a Cristo, fortalecendo-nos pela sua Palavra e pela comunhão da santa Eucaristia.

Pe. Luciano Ferreira, CM
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