XVIII Domingo do Tempo Comum
A nossa sociedade está marcada por uma certa tendência economicista, a economia manipula-nos, o ter mais, o ganhar mais, a centralidade do bem-estar, o ter uma boa-vida. Jesus, no Evangelho, desvia o nosso olhar deste centro e propõe-nos um novo centro, o centro da nossa existência “tornar-se rico aos olhos de Deus” (Lc 12, 21).
XVIII Domingo do Tempo Comum
“A vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens” Lc 12, 15
De quem depende, então, a nossa vida? O que está no centro das nossas motivações? Estas são duas interrogações, entre tantas outras que possam surgir, a partir dos textos bíblicos sugeridos para este domingo, as quais nos centram na realidade do ser humano, na dignidade da pessoa, na dignidade do trabalho. O grande desafio que temos, na nossa vida, é deixar o mundo um pouco melhor do que aquilo em que o encontramos. É difícil responder a este desafio, mas não é impossível. Pois, é responder a um objectivo comum e é trabalhar em prol do bem comum. Se o objectivo não fosse este, se o bem comum não fosse o centro da vida de cada cristão, então ficávamo-nos só, pela “vaidade das vaidades”, pelo desânimo, pelo pessimismo, pelo egoísmo, porque deixávamos para os outros as nossas riquezas, pois, ao partirmos para o pai não levamos connosco as riquezas materiais que possamos ter, produzir ou construir. Pelo contrário, se nos libertarmos do nosso egoísmo, nos fixarmos no bem comum e trabalharmos em prol do bem comum, então enchemos o nosso coração de esperança, dignificamos o trabalho humano e, por conseguinte, dignificamos a pessoa humana.
A nossa sociedade está marcada por uma certa tendência economicista, a economia manipula-nos, o ter mais, o ganhar mais, a centralidade do bem-estar, o ter uma boa-vida. Jesus, no Evangelho, desvia o nosso olhar deste centro e propõe-nos um novo centro, o centro da nossa existência “tornar-se rico aos olhos de Deus” (Lc 12, 21).
Hoje, como no tempo de Jesus, há pessoas demasiado preocupadas com as riquezas e com as heranças materiais, que, por vezes, levam à cisão entre irmãos, a conflitos e a desavenças familiares, porque a avareza não nos deixa ser livres e o nosso coração fixa-se no tesouro material que nos circunscreve e não nos deixa enriquecer interiormente com e no amor de Deus. Tal como o homem da parábola, também a nossa reflexão individual, tantas vezes se fixa na centralidade do meu “EU”, “descansa, come, bebe, regala-te” Lc 12, 19, do meu bem-estar, do meu conforto. Jesus propõe-nos a alteridade, o olhar para o outro, para as necessidades do outro, para a construção de um mundo mais justo.
Somos desafiados à “verdadeira reconciliação que se alcança de maneira proativa, «formando uma nova sociedade baseada no serviço aos outros, e não no desejo de dominar; uma sociedade baseada na partilha do que se possui com os outros, e não na luta egoísta de cada um pela maior riqueza possível; uma sociedade na qual o valor de estar juntos como seres humanos é, em última análise, mais importante do que qualquer grupo menor, seja ele a família, a nação, a etnia ou a cultura». Uma verdadeira paz «só se pode alcançar quando lutamos pela justiça através do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo» (FT 229)”; o bem comum.
Isto só o conseguimos desenvolver em nós quando a palavra de São Paulo aos Colossenses ressoar no nosso coração e fizermos morrer o que em nós é terreno e nos revestirmos do homem novo, nos revestirmos de Cristo que é tudo e está em todos.
De quem depende, então, a nossa vida?
A pergunta subsiste porque o individualismo, o egoísmo, o desejo de riqueza, também subsiste. A resposta à pergunta está no amor de Deus presente no coração humano, na criatura que se sente amada e tem o seu tesouro nos valores cristãos que acolhe no coração e os vive. A caridade dá-nos a resposta, pois, sou capaz de partilhar do que é meu; dá-nos a resposta porque me leva a fazer planos e projectos com a presença de Deus. “Por isso, «cada qual desempenha um papel fundamental, num único projeto criador, para escrever uma nova página da história, uma página cheia de esperança, cheia de paz, cheia de reconciliação» (FT 231)”.
“É preciso enternecer os nossos corações e torná-los sensíveis aos sofrimentos e misérias do próximo e pedir a Deus que nos dê o verdadeiro espírito de misericórdia!” (SVP)