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Lições bíblicas

Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo

Nesta Festa da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, nós, como Povo de Deus, Igreja Missionária de Jesus Cristo, queremos reafirmar convictamente este Mistério da presença de Cristo, que quis ficar presente no meio de nós,

Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo

Caríssimos Irmãos e Irmãs,
Nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, damos graças a Deus por estar no meio de nós pela Eucaristia. Este é o dom inestimável que nos deixou quando, na Última Ceia, pronunciou as palavras que nos foram fielmente transmitidas pelo Apóstolo Paulo: “Isto é o Meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim. Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse:” Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim. Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha.”

Estas palavras, pronunciadas pelo Senhor, antes de sofrer a paixão e a morte, quando se oferece ao Pai em favor de todos os homens, exprimem toda a Sua pessoa, o seu modo de agir, o seu programa, tudo o que Ele é para nós: Amor, Salvação e Vida. Nesta Festa da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, nós, como Povo de Deus, Igreja Missionária de Jesus Cristo, queremos reafirmar convictamente este Mistério da presença de Cristo, que quis ficar presente no meio de nós. “ Eu ficarei convosco até ao fim dos tempos”, verdade de fé que nem sempre foi aceite. Por isso,, esta festa litúrgica começou a ser celebrada, há mais de sete séculos e meio, em 1246, na cidade de Liége, na atual Bélgica, tendo sido alargada à Igreja latina pelo Papa Urbano IV, através da bula “ Transiturus”, em 1264, dotando-a de missa e ofício próprios.

Na origem, a solenidade constituía uma resposta aos que colocavam em causa a presença real de Cristo na Eucaristia, tendo-se afirmado também como o coroamento de um movimento de devoção ao Santíssimo Sacramento, que teria chegado a Portugal provavelmente nos fins do século XIII, tomando a denominação de festa de Corpo de Deus.

O Concílio Vaticano II, ao querer centrar a Igreja naquilo que para ela é essencial, reafirmou precisamente que “na Santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa, e o pão vivo que dá aos homens a vida, mediante a Sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo”. (Presbiterorum ordinis, 5)

Ao pronunciar as palavras “fazei isto em memória de Mim”, após a entrega do pão e do vinho, Jesus mandou-nos realizar os seus gestos e sinais da Última Ceia, pôs nas nossas mãos, nas mãos da Igreja, as realidades maiores a que podemos aceder: a possibilidade de estar com Cristo, de possuir Cristo e de viver em Cristo, nas várias dimensões da Eucaristia: Eucaristia Adorada, Celebrada e Vivida. E temos necessidade da Eucaristia, não ouvida na rádio ou televisão ou outros meios, (isso, somente quando impossibilitados de o fazer, por razões de força maior), mas participar presencialmente como Banquete que Deus prepara para nós: “Sempre que o fizeres, fazei-o em memória de Mim.” Num banquete, a nível humano, não participamos nele, à distância, mas…

Dando continuidade à grande tradição cristã, acreditamos que a Igreja nasce do mistério pascal de Cristo e vive da Eucaristia,” fonte e centro de toda a vida cristã” Lumen gentium, 11). Aliás, “a Igreja nasce da Eucaristia e vive da Eucaristia”. A Igreja, desligada deste mistério da presença de Cristo, o mesmo é dizer, desligada de Cristo vivo e atuante na comunidade cristã, não passa de uma comunidade humana ou de uma sociedade filantrópica; cada cristão, apesar do baptismo que recebeu, se vive alheado deste mistério e desta presença, se não celebra, se não acolhe na comunhão, se não adora, perde os laços espirituais e vitais de amor que o une a Cristo. Daí, mais uma vez, a importância da participação presencial na Eucaristia Dominical. Continua bem atual, e hoje mais do que nunca, o mandamento da Igreja: “Participar na Missa inteira nos domingos e festas de guarda”. O Domingo é o Dia do Senhor; a Eucaristia é o coração do Domingo. Sem Ela!...

À luz desta doutrina perene da Igreja, assente no gesto de Jesus e no seu mandato expresso na Última Ceia, compreenderemos que não é possível manter-se unido a Cristo, partilhar a sua atitude de vida, acolher a sua palavra salvadora e dar testemunho dele sem ser profundamente Eucarístico: : Mensageiros, Testemunhas, Profetas da Eucaristia…Daí nasce o ensinamento da Igreja acerca da participação na missa dominical, acerca da comunhão eucarística de coração purificado, acerca do testemunho de caridade que se segue ao momento celebrativo, acerca da adoração eucarística, fora da missa, como meio de prolongar no coração e na vida quotidiana esse mesmo espírito eucarístico. Na verdade, não pode haver separação (dicotomia) entre a vida e a Eucaristia. Por isso, a Eucaristia exige de nossa parte, um antes e um depois: um antes, preenchido de tudo aquilo que tem sabor a gestos de amor, de entrega e de serviço nas suas várias dimensões; um depois, ou seja, um levar uma ânsia de um amor ainda maior para viver em Eucaristia.

O testo da multiplicação dos pães e dos peixes, retirado do Evangelho de São Lucas, que escutamos, apresenta-nos Jesus a falar às multidões sobre o Reino de Deus e a curar os que necessitam. Começa, por isso, por afirmar que a missão de Jesus consistiu em anunciar o Reino de Deus, que Ele mesmo veio inaugurar e quer que esteja presente em nós. Ao referir as curas que realizava, aponta para a libertação de todos os males que atingem o ser humano e para a salvação de que é portador: a salvação de todo o homem e do homem todo. É da Eucaristia que nasce o dinamismo duma “Igreja em saída!”…

Quando o dia começa a declinar, os Doze aconselham-no a mandar embora a multidão para que procure alimento nas aldeias vizinhas. Pensam somente no alimento para o corpo e não conhecem o alimento que conduz à vida eterna, não conhecem o Pão Vivo descido do Céu, para dar a vida ao mundo para poder dizer: “Dá-nos sempre deste Pão!”

“Dai-lhes vós de comer”, diz Jesus. O que têm, cinco pães e dois peixes, não é suficiente em quantidade para matar a fome à multidão, e muito menos têm o suficiente para saciar a fome do espírito, a fome de eternidade e a fome de Deus. “Não temos senão cinco pães e dois peixes”. Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo”. A esta forma humana, comercial, de tentar resolver as coisas, sempre limitada, incompleta e parcial, Jesus contrapõe um modo divino: a dádiva, a oferta, a distribuição. Essa é a novidade que traz, é a Sua marca e o caminho que nos ensina a percorrer, em comunhão com Ele. Hoje, mais do que nunca, diante das consequências das várias formas de pobreza, provenientes de diversas causas, inclusive, a pandemia e a guerra, que teimam a desaparecer. Neste sentido, o Papa Bento XVI, retomando a teologia da tradição, segundo a qual a Eucaristia é o Sacramento da Caridade, afirma que a “Santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o Amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirável manifesta-se o Amor “maior”…

Pe. João Maria, CM
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