Natal do Senhor
O Natal, ou seja, o primeiro momento do encontro de Deus com a humanidade, na Pessoa do Seu Filho, vem abrir-nos novos horizontes, vem dizer-nos que a vida humana tem sentido, que a vida do homem não se esgota em si mesma, mas encontra a sua plena realização em Deus e nos outros.
Natal do Senhor
Se perguntarmos a alguém da nossa rua, o que festejamos ou celebramos nesta quadra festiva, responde: o Natal! Mas se lhe perguntarmos o que é o Natal, responderá muito ao jeito dos anúncios publicitários: Natal é reunião de família, é tempo rico em culinária, é tempo de prendas ou de histórias bonitas e emotivas….. Para muitos, o Natal não passará de uma preocupação social de ajuda e de solidariedade ou, quando muito, de uma espiritualidade isotérica. Mas a celebração do Natal para os cristãos é muito mais do que isso, é alguma coisa bem diferente.
1. É a resposta a uma ânsia; é a realização de uma esperança; a concretização de um desejo de ultrapassar, de vencer os limites da condição humana, tantas vezes amargamente experimentados na doença, nas injustiças, nas inimizades, nos sentimentos de desprezo e de ódio, nos jogos de interesses egoístas…. Nele, desenvolve-se e concretiza-se o desejo de ajuda a sair deste labirinto em que os homens se sentem perdidos, muito para além das perspetivas humanas imaginadas.
2. Após múltiplas experiências de libertação e de salvação experimentadas ao longo da história passada e recente (os diversos messianismos), aumenta a consciência deste enredo cada vez mais apertado, deste labirinto em que parece não haver janela para o futuro….
3. O Natal, ou seja, o primeiro momento do encontro de Deus com a humanidade, na Pessoa do Seu Filho, vem abrir-nos novos horizontes, vem dizer-nos que a vida humana tem sentido, que a vida do homem não se esgota em si mesma, mas encontra a sua plena realização em Deus e nos outros. O Natal ensina a cada um a sair de si a abrir-se aos outros e a Deus, tal como o Filho de Deus saiu do Pai e veio ao encontro da humanidade para a ajudar com um projeto de vida novo, baseado no amor e no serviço.
4. Para uma celebração cristã do Natal ou seja do mistério da incarnação, algumas atitudes são fundamentais:
a) É indispensável deixar-se iluminar pela luz que provem da mensagem de Jesus. O tema da Luz está presente em toda a liturgia do Natal. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” e dos pastores se diz no evangelho: “a glória do Senhor cercou-os de luz”. E S. João, no principio do seu evangelho diz: “N’Ele estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens. O Verbo era a Luz verdadeira que ilumina todo o homem”
E esta luz ajuda a perceber, a quem a segue, que o crente é desafiado a abraçar um estilo de vida marcado pela renúncia a comportamentos antigos (impiedade e desejos mundanos) e a abraçar novas formas de vida marcadas pela temperança, justiça, piedade, como recomenda Paulo na carta a Tito.
b) Celebrar o Natal é tomar Jesus Cristo como referência permanente e constante da vida. Paulo gostava de lembrar às primeiras comunidades: “tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus”, “tal como o Senhor vos perdoou, também vós deveis perdoar”, ou ainda “revesti-vos dos sentimentos de Cristo”.
Se escutarmos rádio, virmos televisão ou repararmos nas montras das lojas, a referência a Jesus desapareceu. Uma secularidade subtil esvaziou o Natal do seu conteúdo, tornando-o oco e, provavelmente, mais ano menos ano, criará uma onda de fundo propondo a mudança de nome. Sem uma referência direta a Jesus e ao Seu nascimento, nada desta movimentação social é Natal.
c) Deixar-se encontrar por Deus na Pessoa do Seu Filho, agora feito criança, que vem ao encontro da humanidade, em geral, e de cada homem, em particular, com um projeto de vida que dignifica, eleva, enobrece, dizemos na nossa linguagem cristã, que salva.
Mas o grande drama está em o homem não se deixar encontrar, como diz S. João: “Veio ao que era seu, mas os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.”
Quando o homem se deixa encontrar por Jesus, e o recebe, seja na simplicidade do Seu nascimento seja no entusiasmo da sua pregação, seja na glória de ressuscitado, tudo se transforma. Aconteceu assim com os pastores, com os Magos, com André e João, com Pedro, com Zaqueu, com a Samaritana, com o bom ladrão, com o centurião, com Paulo, com todos os que ao longo da história se converteram ao seu projeto de vida. Tudo isto só foi possível depois do “encontro”.
Que a ramagem destas festas não nos escondam o precioso fruto que o Natal nos oferece: Deus que visita o Seu povo enviando-nos o Seu Filho, como nosso Salvador, na fragilidade do Menino de Belém.