I Domingo de Advento
O Advento é tempo de ponderar o acolhimento de Cristo nas nossas vidas e o dilema que este traz: adiro à fragilidade do poder de Deus, que nasce pobre entre os pobres, e faço, com Paulo, do amor a opção radical, fundante, da minha vida? Ou viverei guiado pelos meus apetites, pelos meus pequenos interesses, pelos meus “estados de alma”, por passageiros e fugazes amores?
I Domingo de Advento
1. Como esperar aquele que já veio? O Advento é inaugurado com leituras que nos põem em caminho: com Jeremias recordamos a promessa que Deus nos faz de um rebento na terra que exercerá o direito e a justiça; o salmista repetidamente pede que o Senhor nos mostre o seu caminho; e Paulo centra o nosso coração no grande tema da conversão cristã, o amor, entre crentes, de uns pelos outros, e por todos os que nos rodeiam. Mas se Jesus já chegou, de que estamos à espera? Esperamos a nossa própria adesão ao Verbo que se fez carne, uma adesão que se quer cada vez mais íntima e mais real.
2. É Lucas quem vem em nosso auxílio no Evangelho de hoje. É ele quem nos abre este mistério, com esta ponte que a Igreja nos propõe entre a Incarnação do Filho e o fim dos tempos. Num primeiro momento, tal pode parecer-nos estranho, mas tão somente porque demasiadas vezes reduzimos os dias prévios ao Natal num tempo de simpatia casual, que culmina em jantares e nas já mecânicas – por vezes ocas – trocas de prendas.
3. O Advento é tempo de ponderar o acolhimento de Cristo nas nossas vidas e o dilema que este traz: adiro à fragilidade do poder de Deus, que nasce pobre entre os pobres, e faço, com Paulo, do amor a opção radical, fundante, da minha vida? Ou viverei guiado pelos meus apetites, pelos meus pequenos interesses, pelos meus “estados de alma”, por passageiros e fugazes amores? Esta é a decisão a tomar, que está diante de nós e que é o combate espiritual a travar.
4. A Sagrada Liturgia oferece-nos um texto do evangelho de Lucas, de linguagem apocalíptica, o qual não pretende infundir temor mas desvelar uma grande esperança.
5. Jesus encontra-se no Templo de Jerusalém, na última semana da sua vida terrena. Diante das majestosas pedras do Templo construído por Herodes, Jesus lhes dirá: “De tudo o que contemplais, um dia não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído”. Ora, como o Templo era sinal da presença de Deus na terra, só se podia entender que Jesus falava do fim do mundo.
6. Sabemos que os astros do céu são estáveis. No passado como agora sabemos o curso dos astros, invariável. Jesus, ao dizer que haverá sinais nos astros indica-nos que este mundo via passar e que uma novidade está para chegar. No tempo de Jesus, o mar era o lugar da obscuridade. Mas o novo Reino está a chegar, chegará ao fim o Reino do mal, este será vencido definitivamente.
No Natal, é Cristo que vem instaurar um mundo novo, obra do Espírito de Amor. Cristo é o rebento que Jeremias profetizava.
7. Neste domingo, Jesus ensina também como devemos esperar a sua chegada. Jesus diz: “Levantai-vos”: significa erguer-se, não se resignar diante da escravidão. “Levantai a cabeça”, sede otimistas! Advento é tempo de esperança alegre. Um mundo novo está para chegar, por isso a nossa vida deve mudar, não podemos ficar no sofá, mas erguer o olhar contemplando um futuro melhor. É Cristo que vem ao nosso encontro.
Que fazer? Ser vigilantes, para que o nosso coração não seja insensível aos valores verdadeiros. Às vezes, as modas mundanas levam-nos a perder os valores cristãos, só preocupados com os valores materiais. Cristo hoje convida-nos a alargar horizontes, estar despertos para contemplar a Cristo que vem.
8. Neste tempo de Advento que hoje começa, enchamos os nossos corações de bondade, enfeitemos os presentes que com amor sincero oferecemos e preparemo-nos para acudir e aliviar o sofrimento dos que pouco ou nada têm. Mas, principalmente, busquemos este rebento que germina da terra para que ele nos mostre o caminho do amor, um amor que nos permite viver da misericórdia e fidelidade de Deus. Este é um amor que cresce, lenta e intimamente, em santidade, uma santidade que é um aluz que não ofusca, mas que ilumina. Uma luz que é frágil, uma luz que é um Menino, uma luz que é Jesus, o Filho de Deus, que quando reina nos corações é mais poderoso que todos os impérios da terra. Vigiai, orai e amai, para que Jesus nasça.