Domingo IV de Páscoa
É tão actual o tema destes textos litúrgicos, nestes nossos dias em que pairam estas nuvens de guerra e de divisão, de medo e de insegurança, de sanções económicas e de carências dos bens mais básicos! Confiar no Cordeiro de Deus que deu a vida por nós e que, como Pastor nos conduz a pastagens eternas de paz e de exultação celeste, é a nossa alegria e o nosso desafio quotidiano.
Domingo IV de Páscoa
O Cordeiro de Deus será o seu Pastor
Os acontecimentos que dia a dia vão construindo a História, revelam a surpresa do futuro sempre desconhecido para nós. Podemos preparar, fazer algumas previsões, podemos arriscar, mas há sempre o que não prevemos. Temos o exemplo da pandemia e o desta guerra no leste europeu: totalmente imprevisíveis, quanto ao seu desenrolar e quanto ao seu desfecho final; absolutamente paralisantes, fracturantes, tenebrosos e revelando toda a nossa fragilidade como seres humanos e gregários.
Por este motivo e muitos outros é que o Livro do Apocalipse é tão desafiante, tão misterioso e tão digno de reflexão. Após ser apresentado o Livro “escrito nas duas faces e selado com os setes selos que ninguém nem no céu nem na terra, nem debaixo da terra era capaz de abrir, nem olhar para ele”, só o Cordeiro que foi imolado o tomou e abriu. Foi abrindo cada um dos sete selos e com isso vários fenómenos, catástrofes e outras calamidades revelavam o poder destruidor do pecado. O Cordeiro Imolado alcançou-se a salvação com o seu sangue e por isso aos marcados, aos eleitos revestidos de túnicas brancas trouxe a esperança e a alegria. É neste ponto que se situa a 2ª Leitura deste quarto domingo da Páscoa, após a abertura do sexto selo e apresentando o Cordeiro de Deus como o nosso Pastor que nos quia e nos conduz.
Numa Visita Pastoral do saudoso bispo de Viseu, D. António Monteiro a uma escola primária, uma criança surpreende-nos a todos. Falava-se da figura do Bispo como Pastor, que vem ao encontro do seu rebanho, o povo do Senhor; e então o menino dizendo que também ele era pastor, também tinha um pau - como o bispo - , que servia para afugentar os lobos e os ladrões e que não deixava que ninguém fizesse mal às suas ovelhas e cordeiros. Perguntou-lhe o Bispo se ele seria capaz de enfrentar o inimigo do seu rebanho e o menino disse que se não conseguisse vencer, daria a vida para o defender. Bela catequese, muito bem aproveitada na circunstância. O Evangelho deste dia, apresenta-nos um Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas e que não permite que ninguém as arrebate da sua mão. No ano C, o tema do Pastor não apresenta a ternurenta figura bíblica da ovelhinha aos ombros, mas bem mais a crueza de uma luta que sempre existe e que o Pastor trava para proteger o seu rebanho dando a vida.
A primeira leitura narra-nos o episódio inovador ocorrido em Antioquia da Pisídia, quando os Apóstolos decidem voltar-se para os pagãos: era aos judeus que em primeiro lugar se deveria anunciar o Evangelho da Salvação, mas uma vez que o rejeitam a partir de agora voltar-se-ão para os gentios. De facto, toda a tradição bíblica e todo o culto prestado a Deus pelo povo da promessa eram mais que garantia de que eles aceitariam. No entanto a inveja, com a perda da preponderância e do “status quo” abrindo as promessas de Deus a toda a criatura sem distinção de raça, povo, língua ou nação… foi mais forte e assim surge a perseguição. Que contraste com a alegria que brota no coração dos que se sentem eleitos e chamados por Deus à santidade!
É tão actual o tema destes textos litúrgicos, nestes nossos dias em que pairam estas nuvens de guerra e de divisão, de medo e de insegurança, de sanções económicas e de carências dos bens mais básicos! Confiar no Cordeiro de Deus que deu a vida por nós e que, como Pastor nos conduz a pastagens eternas de paz e de exultação celeste, é a nossa alegria e o nosso desafio quotidiano.