Domingo II de Páscoa
As leituras deste domingo (também chamado “da Divina Misericórdia”) provocam em mim três reflexões, distintas mas inclusivas que, de modo algum, se podem separar: Fé-Jesus-Comunidade.
Domingo II de Páscoa
As leituras deste domingo (também chamado “da Divina Misericórdia”) provocam em mim três reflexões, distintas mas inclusivas que, de modo algum, se podem separar: Fé-Jesus-Comunidade.
1. FÉ CRISTÃ
Significa conhecimento de verdades e adesão a Alguém. Situa-nos na área da teologia mas também no nível existencial; somos desafiados na nossa inteligência, na nossa vontade e na prática da nossa vida (ação). A minha fé inclui um credo de verdades em que tenho de acreditar, mas isso tem de provocar em mim um estilo de vida em conformidade com aquilo em que acredito. Devo conhecer e ensinar, mas sou obrigado a um estilo de vida que seja coerente com essas verdades (moral). Isto é: tenho fé quando acredito e quando vivo em coerência (ética) com isso. E somos felizes porque, como diz Jesus, acreditamos sem ter visto, como os Apóstolos viram.
2. JESUS
É o centro, é a pessoa que tudo deu por mim e eu devo dar tudo por Ele. Fé essencialmente é crer nesta pessoa e aderir a Ela. Não se trata de mera teologia ou cristologia ou credo (teorias ou verdades), mas sim de uma adesão vital e existencial para eu me parecer com Ele. Trata-se de uma pessoa concreta, histórica, cuja vida ficou relatada nos evangelhos. É este Jesus que se aproxima de mim, para que eu me aproxime d`Ele e O siga, no exemplo da sua vida e dos seus ensinamentos. É filho e imagem do Deus da Misericórdia: acolhe o pecador arrependido e perdoa os pecados.
A Igreja perpetuou a representação de Jesus num Cristo crucificado e morto; até na incensação litúrgica nós incensamos a cruz (representação) e não o sacrário (realidade). Este Jesus morreu, isto é, foi morto; os Apóstolos tiveram muita dificuldade em ir mais além, por mais que Jesus o tenha dito e repetido. É o caso de Tomé no evangelho desta missa. Jesus ressuscitou, apareceu vivo em várias ocasiões e os Apóstolos (especialmente João) tiveram o cuidado de nos transmitir e ensinar. Eles são felizes porque viram, ouviram e tocaram; mais felizes somos nós que, sem vermos, acreditamos. Jesus é o Primeiro e Último, O que vive pelos séculos dos séculos, O que tem as chaves da morte e da vida (2ªleitura).
Nas nossas igrejas e templos e casas continuamos a ver a cruz e o crucificado. No princípio não foi assim: representavam Jesus como cordeiro, peixe, bom pastor e outros símbolos (como o anagrama de Cristo). Aparece cada vez mais, nas igrejas (e não só), a dominar o presbitério, a grande figura do Cristo ressuscitado que é o de agora. É o mesmo que sofreu e morreu por nós: mas isso já foi, é passado, embora continuemos a tê-lo sempre presente, sobretudo na quaresma e semana santa.
3. COMUNIDADE
Trata-se do grupo dos Apóstolos e do povo; trata-se de João, nosso irmão e companheiro (2ª leitura). Hoje chamamos a este grupo “Igreja” ou comunidade cristã; alimentava-se da Palavra e do Pão, e testemunhava o seu Mestre Jesus. A nossa fé não é individualista, mas comunitária. Quem falta às assembleias dominicais (missa dominical), peca neste ponto, exceto quando há uma razão grave que justifique essa falta ou ausência. Para justificar o próprio comodismo ou individualismo, dizer “eu tenho a minha fé” é o mesmo que dizer “eu tenho o meu casaco”: é teu, fica com ele.
Concluindo: eu tenho fé em Jesus ressuscitado e vivo-a em comunidade.