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Todos os gestos contam

A continuidade do mundo em que vivemos está comprometida. Terei eu consciência de que a mudança começa em mim e que um consumo consciente é a chave para combater as alterações climáticas?

Todos os gestos contam
Mafalda Guia

Quando ouvimos falar em alterações climáticas e quando percebemos que a dimensão do problema que temos em mãos é quase inimaginável de tão grave que é, podemos cair na tentação de pensar que a solução para o problema passa por gestos e projetos grandiosos, que não estão ao alcance de qualquer um. É certo que é necessário o envolvimento dos grandes poderes e decisores da economia global, porque o combate às alterações climáticas exige projetos conjuntos, que requerem um volume avultado de recursos financeiros e humanos, que só com um esforço conjunto é possível de obter. No entanto, há um aspeto fundamental que importa considerar neste processo de combate às alterações climáticas: a mudança começa em cada um de nós.

O Papa Francisco, na Encíclica Laudato si’, diz-nos por onde começar: “Uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social. Verifica-se isto quando os movimentos de consumidores conseguem que se deixe de adquirir determinados produtos e assim se tornam eficazes na mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção. É um facto que, quando os hábitos da sociedade afetam os ganhos das empresas, estas vêem-se pressionadas a mudar a produção. Isto lembra-nos a responsabilidade social dos consumidores. «Comprar é sempre um ato moral, para além de económico». Por isso, hoje, «o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós».

Temos de acreditar no poder dos consumidores, no nosso poder, porque cada um de nós tem a responsabilidade e o potencial para mudar as empresas que criam os produtos que consumimos. A compra é o nosso maior voto. Os recursos são limitados (tempo, dinheiro, …) e escolher como os distribuímos diz muito sobre aquilo que move a nossa existência.
O racional é simples: se comprarmos, as empresas produzem; se não comprarmos, não produzem. É muito fácil desresponsabilizar-nos, mas temos que cumprir com a nossa parte neste caminho de transformação. Enquanto consumidores, cabe-nos dar o nosso voto onde, em consciência, sentirmos que está em equilíbrio. A palavra chave é “em consciência”.

E como podemos comprar “em consciência”? Enquanto consumidor, devo procurar identificar as características que preciso num determinado produto, pensar sobre a forma como vou comprar, escolher o fabricante/empresa de acordo com a sua responsabilidade socioambiental na produção, fazer um uso otimizado do produto para que este tenha uma vida útil mais longa e, por último, definir a forma mais adequada para descartar este produto, quando o mesmo já não estiver em condições para continuar a ser utilizado. Só assim, tomando decisões conscientes em cada uma destas fases, o “eu” consumidor poderá comparar e escolher a melhor opção.

Mudar comportamentos é um trabalho difícil, que implica um longo e exigente caminho, mas cabe-nos a nós mudar o nosso estilo de vida e começar a tomar verdadeira consciência do impacto daquilo que consumimos. Entender o que significa consumo consciente é perceber que o consumo de toda e qualquer coisa, seja um produto ou serviço, tem consequências positivas e negativas. O ato de consumir não afeta apenas quem faz a compra, mas também o meio ambiente, a economia e a sociedade como um todo. Por isso é tão importante refletir sobre os nossos hábitos de consumo, estar atento à real necessidade do que consumimos e aos possíveis impactos que uma simples compra pode causar.
Desta forma, e ”em consciência”, poderemos responder ao apelo do Papa Francisco: “A Carta da Terra convidava-nos, a todos, a começar de novo deixando para trás uma etapa de autodestruição, mas ainda não desenvolvemos uma consciência universal que o torne possível. Por isso, atrevo-me a propor de novo aquele considerável desafio: «Como nunca antes na história, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início (...). Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência face à vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida». (LS, 207)

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