Sentamo-nos à mesa
A proposta mais concreta da Rede (Cuidar da Casa Comum) é apoiar a formação, em paróquias, escolas, empresas e outros meios onde as pessoas se encontrem, de focos de conversão ecológica, pequenos grupos que aprofundem o conhecimento da Laudato Si’ e a partir daí se empenhem em promover a ecologia integral.
Rita Veiga e Juan Ambrosio – Comissão Executiva da REDE CCC
17 de março de 2021
E se imaginarmos a Laudato Si’ como uma janela para o mundo, ou melhor, para a Criação? A carta (encíclica) que o papa Francisco nos escreveu mostra-nos o que chamou “a casa comum”, que habitamos e partilhamos com todas as criaturas. Podemos debruçar-nos um pouco da janela e alongar a vista, e imaginar até que não há barreiras nem limite para o que o olhar alcança. Desse modo tornam-se próximos tudo e todos ao redor do mundo, graças à imensa tecnologia de que dispomos. Mas a globalização trouxe-nos novas responsabilidades, sobretudo se dela usufruímos.
Na Laudato Si’, Francisco apresenta um quadro verdadeiramente preocupante do que está a acontecer à nossa casa, apontando a raiz humana da crise ecológica, e propõe mudanças, segundo o que chama “ecologia integral”. Este conceito abarca o meio ambiente, sim, mas integra igualmente a ecologia económica e social, cultural e da vida quotidiana. É um desafio de que ninguém está dispensado e que procura caminhos e soluções que não deixem ninguém de fora. Somos chamados a uma conversão ecológica, focada no bem comum, que nos levará a optar por outro estilo de vida, respaldado numa espiritualidade ecológica, assumindo cada um(a) também a sua corresponsabilidade cívica e, se possível, participação social e política.
E foi deste repto que nasceu a Rede Cuidar da Casa Comum, pela determinação de uns quantos, que contagiaram outros tantos e esperam juntar mais e mais, para aprendermos a ser cuidadores da criação, dádiva que nos foi confiada, para o bem de todos, incluindo as gerações futuras. A proposta mais concreta da Rede é apoiar a formação, em paróquias, escolas, empresas e outros meios onde as pessoas se encontrem, de focos de conversão ecológica, pequenos grupos que aprofundem o conhecimento da Laudato Si’ e a partir daí se empenhem em promover a ecologia integral.
Quando, em 2015, o Papa lançou o alerta sobre o mau estado da Terra e da humanidade, ainda não estávamos confrontados com a pandemia da covid-19 e o rol de tragédias e efeitos desastrosos que ela tem acarretado. Antes, a intensificação das catástrofes naturais, por exemplo, ou a mobilização e os protestos de grande número de jovens em diferentes países pareciam não chegar para nos sacudir e pôr em causa “a normalidade”, dominada por interesses egoístas e indiferença. A atual crise devastadora que varreu o planeta tem de nos abrir os olhos e ensinar alguma coisa. Como disse o Papa, em duas passagens de uma das suas catequeses – “Curar o mundo” 3, 19 ago.2020*:
A pandemia acentuou a difícil situação dos pobres e o grande desequilíbrio que reina no mundo. E o vírus, sem excluir ninguém, encontrou grandes desigualdades e discriminações no seu caminho devastador. E aumentou-as!
A pandemia é uma crise e não se sai igual de uma crise: ou saímos melhores ou saímos piores.
Esta última afirmação, dita de um modo tão simples e tão claro, traduz bem o momento histórico que estamos a viver. Este é o momento das decisões. Se o nosso objetivo se reduzir a um voltar à normalidade pré-pandémica, pouca coisa se alterará e, então, nesse caso, não sairemos melhores de toda esta situação. Se, pelo contrário, ousarmos sonhar e criar um futuro diferente, onde todos, como irmãos, na linha do que nos sugere a Fratelli Tutti, cuidarmos deste lar comum e cuidarmos uns dos outros, então, certamente, sairemos melhores e mais bem preparados e motivados para concretizar a tarefa a que somos convocados.
Por ocasião da celebração do ano Laudato Si’, que ainda estamos a viver, o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, propôs-nos sete Objectivos Laudato Si’, que certamente nos podem servir de sinais de pistas para nos ajudar a percorrer o caminho
1. Responder ao clamor da Terra
2. Responder ao clamor dos pobres
3. Economia ecológica
4. Adotar um estilo de vida simples
5. Educação ecológica
6. Espiritualidade ecológica
7. Compromisso e ação participativa da comunidade
Eles podem também servir-nos de guia neste exercício de escuta e de leitura dos sinais dos tempos que esta Mesa Redonda – Missão Onlife também quer ser e à qual a REDE Cuidar da Casa Comum se senta para, juntamente com outros, aceitar o desafio de responder às interpelações que Aquele, em quem acreditamos, nos continua a fazer através da vida concreta das pessoas e dos povos.