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Portugal e os oceanos

“O oceano lembra-nos que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós”, para o qual temos responsabilidades com as gerações futuras que questionam ‘Que futuro?’

Portugal e os oceanos
Ricardo Cunha
27 de setembro de 2023

“Toda a vida marítima! Tudo na vida marítima!” (Ode Marítima de Álvaro de Campos)

Esta expressão do heterónimo de Fernando Pessoa expressa bem a relação de Portugal com os oceanos, não fosse este pequeno país à beira-mar plantado, um dos maiores do mundo, se considerarmos a sua dimensão marítima. A história de Portugal está marcada pela sua relação com o Atlântico e os portugueses são conhecidos por todo o mundo como bravos marinheiros. E é, por isso, que Portugal tem responsabilidades acrescidas nesta área, as quais não passaram indiferentes ao Papa Francisco no encontro com as autoridades, sociedade civil e corpo diplomático na Jornada Mundial da Juventude, que se realizou na “cidade do oceano”, Lisboa. Para Francisco, o oceano não é uma fronteira que separa, mas um limite de contacto que, em Lisboa, promove uma abertura universal do continente ancião, a Europa. No seu discurso, Francisco desafia-nos a trabalhar um estaleiro da esperança. Neste seu estaleiro trabalham, em conjunto, o ambiente, o futuro e a fraternidade.

Em relação ao ambiente, Francisco relembra os alertas já deixados na encíclica Laudato Si’ em relação à poluição dos oceanos que compromete a cadeia alimentar, a urgente preservação da biodiversidade, o aumento da temperatura da água, bem como o sistema de governo dos oceanos. “O oceano lembra-nos que a existência humana é chamada a viver de harmonia com um ambiente maior do que nós”, para o qual temos responsabilidades com as gerações futuras que questionam ‘Que futuro?’

Este futuro é o segundo estaleiro da esperança. Perante os muitos e variados desafios sociais e humanos que os mais jovens enfrentam, Francisco relembra a necessidade de ouvirmos os mais novos. No Pacto Educativo Global, este é um dos 7 compromissos. Ouvir, acolher as suas perguntas e, a partir delas, transmitir valores e conhecimentos que nos levem a construir juntos. Em Lisboa, Francisco recordou a importância dos idosos na transmissão dos valores, uma vez que no contacto intergeracional conseguem “introduzir numa história, transmitir uma tradição, valorizar a necessidade religiosa do ser humano e favorecer a amizade social”. No encontro com os universitários na Universidade Católica Portuguesa e a partir do Pacto Educativo Global, o Papa convidou a construir um futuro alicerçado no acolhimento e na inclusão, onde todos se reconhecem como irmãos.

Como último estaleiro da esperança, o Papa aponta a fraternidade. Relembra as virtudes das comunidades, onde na intimidade, proximidade e ligação ao mais próximo, cada um reconhece no outro um irmão. Em Lisboa, “casa da fraternidade” e “cidade dos sonhos”, os jovens foram fermento para derrubar divisões, promover a paz e a amizade social. “Se nos aproximarmos da natureza e do meio ambiente sem esta abertura para a admiração e o encanto, se deixarmos de falar a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo, então as nossas atitudes serão as do dominador, do consumidor ou de um mero explorador dos recursos naturais, incapaz de pôr um limite aos seus interesses imediatos” (LS 11). O diálogo assume-se, assim, como essencial para a construção de uma ecologia integral. O reconhecimento do que deve ser afirmado e respeitado a partir do diálogo é a base da construção de um ‘viver e construir juntos’, numa sociedade plural e diversa.

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