Nos 10 anos da Laudato Si, a gratidão e o compromisso
Mais do que um texto, a Encíclica Laudato Si’ e tudo o que à sua volta nasceu (Constelação Laudati Si’) parecem-me ser testemunho maior dos dons que o Espírito Santo nos concedeu, e pelos quais estamos gratos, neste Pontificado


Juan Ambrosio, RCCC
18 de junho de 2025
Estamos, neste ano de 2025, a celebrar o décimo aniversário da Encíclica Laudato Si’ do papa Francisco. Não é preciso termos um olhar muito atento para percebermos que se trata de um dos textos maiores do seu pontificado, constituindo, para mim, um dos pilares daquilo que gosto de pensar como sendo o Ecossistema de Francisco, expressão que acaba por ser inspirada pelo próprio texto da Encíclica.
Neste Ecossistema, destaco três textos que correspondem àquilo que julgo terem sido (como me custa utilizar o verbo no passado) três das suas grandes prioridades. A primeira podemos encontrá-la na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), onde Francisco se dirige aos fiéis cristãos “a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos.” (nº1). Percursos que, como sabemos, passam pela renovação da Igreja, de modo que esta, descentrando-se de si, se coloque em dinâmica de saída em direção a todas as periferias geográficas e existenciais a quem é enviada. A segunda, aparece bem espelhada na Encíclica Laudato Si’ (2015), com a qual o Papa pretende entrar em diálogo com todos acerca da nossa Casa Comum (cf. Nº 3). Trata-se do cuidado da Casa Comum, preocupação que ocupa um lugar de destaque cada vez maior nas comunidades cristãs, a ponto de podermos dizer que esse cuidado pode e deve ser critério para aferir a sua fidelidade. Finalmente, a terceira, presente na Encíclica Fratelii Tutti (2020), novamente dirigida a todos, concretiza-se na preocupação pela promoção da fraternidade e da amizade social, como bem se pode ver no desejo que o Papa expressa:
“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: «Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente (…); precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! (…) Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos». Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos.” Nº 8)
Pegando nestas três prioridades, julgo que as podemos conjugar deste modo, formulando, assim, o que me parece ser uma visão de conjunto bem legível: Uma Igreja renovada (EG) para poder cuidar cada vez melhor da casa comum (LS) e do humano comum (FT). E o impulso e suporte desta renovação e deste cuidado podemos bem encontrá-los, como o próprio Papa afirma na sua última Encíclica Dilexit Nos (2024), no amor humano e divino do Coração de Jesus.
A partir do que acabo de referir parece-me evidente o lugar de destaque da Encíclica Laudato Si’, a ponto de podermos falar naquilo a que tenho vindo a chamar a Constelação Laudato Si’. Na verdade, a partir desta Encíclica surgiram uma série de dinâmicas e propostas que podem ser olhadas nas suas relações mútuas. É isso que acontece com a Semana Laudato Si’ (celebrada todos os meses de maio, à volta do dia 24, dia da assinatura do texto), com o Tempo da Criação (celebrado todos os anos de 1 de setembro a 4 de outubro), com o Ano Laudato Si’ (celebrado no quinto aniversário da Encíclica), com os sete Objetivos Laudato Sí’, com a Plataforma de Ação Laudato Si’, com o Movimento Laudato Si’ (movimento internacional), com a Rede Cuidar da Casa Comum (movimento nacional) e mesmo com as Exortações Querida Amazónia (2020) e Laudate Deum (2023). A modo de uma constelação, como referido, todas estas realidades estão interligadas entre si (a categoria da interligação é também uma categoria central da Encíclica Laudato Si’) constituindo um enorme filão na ação e reflexão das comunidades cristãs.
De um modo telegráfico partilho, a partir do texto da própria Encíclica, aqueles que o Papa considera serem os seus eixos estruturantes:
“a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do novo paradigma e das formas de poder que derivam da tecnologia, o convite a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a necessidade de debates sinceros e honestos, a grave responsabilidade da política internacional e local, a cultura do descarte e a proposta dum novo estilo de vida. Estes temas nunca se dão por encerrados nem se abandonam, mas são constantemente retomados e enriquecidos.” (nº 16)
Porque todos somos corresponsáveis neste exercício, este caminho tem de ser percorrido por todos, inserindo-se aqui outro dos grandes legados do pontificado do papa Francisco. Também no que ao cuidado da Casa Comum diz respeito, bem como ao desenvolvimento de uma ecologia integral, a maneira sinodal de ser e agir é aquela que melhor pode dar conta das decisões e tarefas a que este nível somos convocados.
Mais do que um texto, a Encíclica Laudato Si’ e tudo o que à sua volta nasceu (Constelação Laudati Si’) parecem-me ser testemunho maior dos dons que o Espírito Santo nos concedeu, e pelos quais estamos gratos, neste Pontificado.
Sinceramente julgo que a melhor maneira de expressarmos essa gratidão passa pela coragem e ousadia de continuar este caminho.
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