Fim ao Fóssil: ocupa
Temos vindo a assistir à emergência de um movimento com um slogan fervoroso: "Fim ao Fóssil. Ocupa!". É uma expressão não apenas de protesto, mas de um chamado à ação, um grito contra a inércia diante da crise ambiental que assola o nosso planeta.
Ricardo Cunha
20 de março de 2024
Os diversos eventos climáticos extremos que temos vindo a assistir são apenas alguns dos sintomas alarmantes do desequilíbrio ambiental que enfrentamos. Perante este cenário, de algum modo catastrófico, a ação é urgente. Mas os fins justificam todos os meios?
Temos vindo a assistir à emergência de um movimento com um slogan fervoroso: "Fim ao Fóssil. Ocupa!". É uma expressão não apenas de protesto, mas de um chamado à ação, um grito contra a inércia diante da crise ambiental que assola o nosso planeta. A ação deste movimento, através do arremesso de tinta verde a vários políticos ou com a ocupação de espaços públicos ou eventos de renome, tem tido grande cobertura mediática. Ninguém passa indiferente às reivindicações do fim ao fóssil até 2030.
Todos percebemos que nesta matéria há uma clara resistência de interesses económicos poderosos, falta de vontade política e uma certa apatia generalizada. No entanto, os meios utilizados por este movimento têm sido amplamente criticados, uma vez que se centram na destruição de património, no ataque individual e no acentuar na tónica de uma ecologia que descura as várias dimensões da pessoa. A sociedade que habita o mundo natural não pode ser dissociada das problemáticas ecológicas. Como diz o Papa Francisco “As razões, pelas quais um lugar se contamina, exigem uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade” (LS 139).
No entanto, a realidade não se esgota nestas dimensões. Neste aspeto muito pode contribuir o conceito de Ecologia Integral, defendido pelo Papa Francisco. A identidade de um lugar está intrinsecamente ligada ao seu património histórico, artístico e cultural. “Muitas formas de intensa exploração e degradação do meio ambiente podem esgotar não só os meios locais de subsistência, mas também os recursos sociais que consentiram um modo de viver que sustentou, durante longo tempo, uma identidade cultural e um sentido da existência e da convivência social” (LS 145). Os ambientes em que vivemos influenciam o modo como percecionamos o mundo que nos rodeia. Assim, a procura de um novo paradigma ecológico não pode dissociar-se da realidade das pessoas, dos seus problemas, dos seus locais de trabalho... As soluções apresentadas devem, por isso, promover uma perspetiva holística de transformação ecológica e não apenas reduzir-se a opções políticas e empresariais.
Ao abraçarmos o conceito de ecologia integral, promovido pelo Papa Francisco, reconhecemos a interconexão entre as questões ambientais, sociais e culturais. Assim, podemos avançar em direção a soluções que abordem os desafios ambientais enquanto promovem o bem comum e a justiça intergeracional.