A pandemia da covid-19 e o debate público sobre as suas causas veio chamar a atenção sobre as ligações entre ecologia e saúde pública. Não há certezas sobre a origem desta pandemia, mas uma causa provável é a passagem de vírus de animais selvagens para animais domésticos e destes para pessoas, fenómeno indissociável da destruição dos habitats naturais. A questão interpela-nos, independentemente das suas ligações com a covid-19. Se a destruição dos habitats naturais não foi a causa desta pandemia, pode ser a causa da próxima.

O alarme e a necessidade de respostas urgentes associadas a pandemias não deve distrair-nos de uma perspetiva mais geral. A produção de vacinas, apesar da sua eficácia ser posta em causa pela mutação dos vírus e do seu efeito social ser assimétrico devido a uma má distribuição, está a tranquilizar as mentes imunes a delírios de teorias da conspiração. Apesar de todas as limitações da vacinação e de outras medidas de proteção, está no nosso horizonte controlar a pandemia em dois ou três anos.

No entanto, a poluição aquática e atmosférica, assim como a contaminação dos solos, não são problemas que se possam resolver num prazo tão curto. E todos estes problemas afetam a saúde pública. Podemos adoecer não só por causa de vírus, mas também devido ao ar que respiramos, à água que bebemos, à comida que comemos. Os pobres, claro, estão expostos a um maior risco.

A longo prazo, só políticas públicas, hábitos de consumo e estilos de vida coerentes com os princípios da ecologia integral podem garantir a saúde de todos. O apelo da Laudato Si é que esta transformação pessoal e social seja associada a uma espiritualidade ecológica, partilhada por crentes e não crentes.