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Cuidar da Casa Comum: Energia para Transformar

Ao celebrar os 10 anos da Laudato Si’, que esta iniciativa do Patriarcado de Lisboa inspire outras dioceses, instituições e cidadãos a assumirem um compromisso real com a conversão ecológica. Porque cuidar da Terra é cuidar dos pobres, e cuidar dos pobres é cuidar de Deus presente em cada criatura.

Cuidar da Casa Comum: Energia para Transformar
Diogo Assunção, RCCC
25 de junho de 2025

Por ocasião do 10º aniversário da publicação da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum(1), o Patriarcado de Lisboa (2), em colaboração com o Grupo Cuidar da Casa Comum da Paróquia de Santa Isabel (3) e a Cooperativa Coopérnico (4), anunciou a intenção de estabelecer um protocolo para apoiar paróquias, comunidades, movimentos e instituições sociais da diocese na redução da sua pegada energética e na partilha de energia renovável com famílias vizinhas em situação de pobreza energética.

Esta intenção ganha destaque pela sua oportunidade, tendo em consideração o “apagão” de eletricidade que se viveu na Península Ibérica no final do mês de abril. Essa circunstância serviu para nos recordar da fragilidade do nosso sistema de produção e distribuição de eletricidade bem como da absoluta dependência que temos de um fornecimento contínuo de energia para as funções mais básicas do dia a dia. O “apagão” teve efeitos em todos os setores da nossa economia, com impactos imediatos e prolongados em serviços essenciais, comunicações, transportes e no bem-estar quotidiano, não poupando verdadeiramente ninguém mas com um potencial para afetar mais alguns dos elementos da nossa sociedade com maiores necessidades.

No coração da proposta apresentada está a mensagem central da Laudato Si’, que nos convida a uma “ecologia integral” — uma abordagem que reconhece a interligação entre os problemas ambientais, sociais, económicos e espirituais do nosso tempo. A encíclica faz forte apelo à conversão ecológica, não apenas como uma mudança de mentalidade, mas como uma transformação profunda dos nossos estilos de vida, modelos de produção e relação com a criação.

Esta iniciativa endereça de forma direta em alguns dos objetivos da encíclica, como sejam a resposta ao clamor da Terra, pela redução das emissões e da dependência de fontes de energia poluentes; a resposta ao clamor dos pobres, através da solidariedade energética para com aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade; ou a adoção de estilos de vida sustentáveis, através de escolhas por uma vida frugais e sustentáveis.

Esta ideia surgiu por iniciativa de um grupo de leigos que se constituiu na Paróquia de Santa Isabel para promover o estudo e procurar concretização no dia a dia os objetivos da Laudato Si’, e encontrou eco na vontade do Patriarcado de se adaptar e promover uma maior conversão à Ecologia Integral. A esta vontade de agir, juntou-se a dinâmica, capacidade técnica e experiência de mais de 12 anos da Cooperativa Coopérnico, focada na construção de um modelo energético mais justo, democrático e renovável.

O trabalho ao abrigo deste protocolo inclui a avaliação dos recursos associados ao consumo de energia e da pegada climática das entidades, bem como à elaboração de propostas para reduzir o consumo de energia. As propostas a elaborar podem incluir soluções para autoprodução de eletricidade, com recurso a tecnologias limpas e de reduzido impacto ambiental, e eventualmente a criação de comunidades energéticas que possam beneficiar famílias em situação de pobreza energética.

As comunidades energéticas, promovidas por iniciativas como esta, têm um potencial transformador. Permitem que grupos locais produzam, consumam, armazenem [eventualmente] e partilhem energia renovável de forma colaborativa. Não só reduzem a dependência da rede nacional como promovem a eficiência, reduzem custos e fomentam a consciência ecológica. Acima de tudo, colocam as pessoas no centro da transição energética, numa perspetiva de justiça social e equidade.

Esta iniciativa demonstra que é possível agir de forma articulada, unindo comunidades de fé, conhecimentos técnicos e uma visão espiritual do mundo. É um convite a toda a diocese — e a toda a sociedade — a assumir a responsabilidade coletiva pelo futuro da nossa Casa Comum.

No entanto, a transformação necessária não depende apenas de projetos institucionais. Ao nível individual, cada pessoa pode e deve assumir o seu papel ativo. A redução do consumo energético também pode passar por pequenas mudanças, como apagar luzes desnecessárias, desligar aparelhos em stand-by, optar por eletrodomésticos eficientes, privilegiar a luz natural, melhorar o isolamento térmico das habitações. Mas, mais do que uma mudança tecnológica, exige-se uma mudança de mentalidades: viver com mais simplicidade, reduzindo o consumo, evitando o desperdício e valorizando o que é suficiente.

Esta simplicidade voluntária, destacada na Laudato Si’, é uma expressão concreta da espiritualidade ecológica. Não se trata de abdicar de conforto, mas de procurar uma vida mais plena, menos centrada no consumo e mais enraizada na relação com os outros e com a Criação. Como afirma o Papa Francisco, "não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental" (*LS*, 139).

O caminho proposto não é fácil, mas é urgente. Envolve transformações individuais e institucionais, culturais e económicas. Mas, como nos recorda a Laudato Si’, cada pequeno gesto conta – o retorno do investimento em num estilo de vida mais sustentável é imenso, para cada criatura de Deus. Juntos, em comunidade, podemos fazer muito mais. A crise ambiental é também uma oportunidade para redescobrir o valor do bem comum, da solidariedade e da esperança.

Ao celebrar os 10 anos da Laudato Si’, que esta iniciativa do Patriarcado de Lisboa inspire outras dioceses, instituições e cidadãos a assumirem um compromisso real com a conversão ecológica. Porque cuidar da Terra é cuidar dos pobres, e cuidar dos pobres é cuidar de Deus presente em cada criatura.

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