Crise climática: o grito da Terra e o silêncio dos líderes
A continuidade do mundo em que vivemos está comprometida. Terei eu consciência de que as escolhas que fazemos hoje determinarão o destino do planeta e das gerações futuras?


Mafalda Guia
26 de fevereiro de 2025
A continuidade do mundo em que vivemos está comprometida. Terei eu consciência de que as escolhas que fazemos hoje determinarão o destino do planeta e das gerações futuras?
Em 2025, o planeta continua a enfrentar recordes ambientais que não podem ser ignorados. A ciência já confirmou que os piores cenários previstos para as alterações climáticas estão a tornar-se realidade, e o impacto na vida humana é cada vez mais visível, especialmente para as populações mais vulneráveis. A pergunta é, mais uma vez, urgente: estamos conscientes de que o futuro da Terra e dos mais pobres está em risco?
Após uma década de intensos esforços internacionais, o Protocolo de Quioto, que marcou o início das negociações globais sobre as alterações climáticas em 1997, foi sucedido pelo Acordo de Paris em 2015. Este acordo visava limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus celsius em relação aos níveis pré-industriais. Contudo, o caminho para a concretização deste objetivo tem sido repleto de obstáculos. Em 2024, o mundo assistiu a um retrocesso político significativo: Donald Trump, eleito novamente presidente dos Estados Unidos, anunciou a retirada do país do Acordo de Paris. Esta decisão, já tomada em 2017, é agora confirmada, o que coloca em sério risco os esforços globais para conter o aquecimento global. A sua saída enfraquece a liderança dos Estados Unidos, país que tem uma enorme influência nas negociações climáticas globais, e compromete a possibilidade de alcançar os objetivos acordados.
Neste contexto de incerteza política, a União Europeia continua a afirmar-se como líder no combate às alterações climáticas. Comprometida com a neutralidade carbónica até 2050, a União Europeia tem impulsionado políticas ambiciosas, como o Pacto Ecológico Europeu, e pressionado outros países a seguir o seu exemplo. No entanto, o bloqueio imposto pela saída dos Estados Unidos e os interesses económicos ainda vigentes em várias regiões do mundo dificultam os avanços necessários. A responsabilidade recai, então, sobre os cidadãos e os movimentos sociais, que têm de pressionar por uma ação mais decidida.
A Igreja, através da figura do Papa Francisco, tem sido uma voz moral incansável na defesa do meio ambiente e dos mais pobres. Desde a sua encíclica Laudato Si’, que colocou a questão climática no centro da reflexão cristã, até à exortação Laudate Deum, o Papa tem apelado constantemente a uma conversão ecológica que se traduza em escolhas concretas e responsáveis. A mensagem do Papa é clara: a crise climática é uma questão moral, que nos interpela a todos. Como o Papa afirmou recentemente, "o futuro de todos depende do presente que escolhermos". O Papa Francisco continua a exortar-nos a agir com urgência, reconhecendo que a devastação da criação é uma ofensa a Deus, um pecado não só pessoal, mas estrutural, que atinge especialmente os mais pobres e vulneráveis.
No contexto atual, marcado por temperaturas recorde e fenómenos climáticos extremos, as palavras do Papa Francisco ganham uma ressonância ainda maior. Ondas de calor, secas severas, incêndios e a subida do nível do mar são apenas alguns dos sinais da crise em curso. A falta de ação eficaz e a constante procrastinação dos governos põem em risco o futuro da Terra e das gerações futuras.
Precisamos de uma ação concreta, agora. O desafio das alterações climáticas não pode ser resolvido apenas com grandes acordos internacionais, mas exige também a transformação do nosso dia-a-dia: nas escolhas que fazemos, nas nossas atitudes e na forma como nos relacionamos com a natureza. Não basta lamentar o estado do mundo, é necessário que cada um de nós se torne um agente de mudança, desde o cuidado individual com os recursos naturais até à pressão ativa sobre os líderes políticos, empresariais e sociais.
O futuro do planeta, e das gerações que virão, depende das decisões que tomamos hoje. Não podemos ser espectadores passivos desta crise global, mas sim protagonistas de um movimento de transformação. Como católicos, e como cidadãos responsáveis, é nossa tarefa fazer a diferença – proteger o ambiente e, ao mesmo tempo, lutar por uma sociedade mais justa e solidária. A terra está a gritar por ajuda, e nós não podemos ignorar o seu clamor. A nossa ação coletiva, alimentada pela fé, esperança e solidariedade, será a chave para um futuro sustentável.
Escolhamos, então, agir. Escolhamos ser a mudança.
Mesa Redonda
Missão onlife:
Cultura



Sociedade
Casa Comum


