Carlos III - novos caminhos de ecumenismo
Apesar da Comunhão Anglicana apresentar a defesa do meio ambiente como uma parte essencial da sua missão e compromisso com a criação divina, espera-se que o seu novo líder, Carlos III, possa influenciar o anglicanismo na procura de uma conexão mais profunda com a criação e o respeito pelo meio ambiente.
Ricardo Cunha
17 de maio de 2023
A história do Reino Unido tem oferecido ao mundo novas perspetivas religiosas. Exemplo disso é o próprio Anglicanismo, uma Igreja Cristã, cujo chefe da Comunhão Anglicana é o rei, neste caso, Carlos III.
A coroação de Carlos III esteve envolta por um mediatismo ao qual casa real britânica nos tem habituado. A cobertura jornalística, através dos vários meios de comunicação, aproximou o cidadão comum deste acontecimento histórico, que marca o reinado de qualquer monarca. Carlos III aproveitou a celebração religiosa da sua coroação para trespassar alguns dos seus valores, entre eles a liberdade religiosa. Pela primeira vez, os vários líderes religiosos do Reino Unido foram convidados a participar, representando a diversidade multirreligiosa no país. Como líder da Comunhão Anglicana, com relações com a Igreja da Escócia, Carlos III tem responsabilidades acrescidas no âmbito religioso.
A Comunhão Anglicana reconhece o imperativo de agir em favor da sustentabilidade e do cuidado com o meio ambiente. Através de declarações, práticas locais e parcerias, busca promover uma abordagem responsável e comprometida com a proteção e preservação da criação de Deus. Apesar da Comunhão Anglicana apresentar a defesa do meio ambiente como uma parte essencial da sua missão e compromisso com a criação divina, espera-se que o seu novo líder, Carlos III, possa influenciar o anglicanismo na procura de uma conexão mais profunda com a criação e o respeito pelo meio ambiente.
A vida de Carlos III foi marcada por uma forte defesa do meio ambiente. Em 1970, aos 21 anos, o então príncipe Carlos proferiu um discurso em que manifestou a sua preocupação com a crescente poluição causada por resíduos plásticos. Esta é uma realidade da qual atualmente ninguém tem dúvidas, mas na época o discurso foi considerado exagerado. Em 1989 referiu que desde a revolução industrial, em que o Reino Unido teve grande impacto, os seres humanos têm alterado o equilíbrio ambiental. Ao longo da sua vida, empenhou-se na consciencialização sobre os desafios ambientais. Através da sua fundação, promove a conservação da biodiversidade, incentiva a agricultura biológica e apoia a utilização de energias renováveis.
Carlos III torna-se, assim, o terceiro líder religioso cristão que se envolve de forma profunda para alcançar a sustentabilidade ambiental, juntando-se ao Papa Francisco e ao Patriarca Ortodoxo Bartolomeu, que nos têm alertado para as raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais. As ligações afetivas de Carlos III ao Cristianismo Ortodoxo, através do seu pai, são também uma força que pode abeirar ainda mais o Anglicanismo na defesa do mundo natural, dada a influência Patriarca Ortodoxo Bartolomeu tem exercido na aproximação dos diferentes credos no cuidado da criação. Segundo os dados da “Iniciativa Fé pela Terra” das Nações Unidas, o envolvimento das religiões na sustentabilidade ambiental é preponderante, dada a sua influência nos media, educação, comunidades, pelos quais transmitem valores e formam consciências. Esta iniciativa trabalha para mobilizar ensinamentos e valores religiosos em ações práticas para promover a sustentabilidade e enfrentar os desafios ambientais atuais.