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A Política Sublime Vocação

O exercício da política, a todos os níveis, e em todas as geografias, esta sob uma enorme suspeita.

A Política Sublime Vocação
Juan Ambrosio, RCCC
06 de março de 2024

Com frequência temos assistido nas notícias a uma contínua depreciação da imagem dos políticos e a uma contínua desconfiança acerca do exercício da política. Parece até que numa base semanal, para não dizer quase que diária, surgem novos casos dando-nos conta de situações menos transparentes, as quais levantam enormes dúvidas acerca do correto desempenho de funções relacionadas com cargos políticos. E se até há não muito tempo tudo parecia ficar pelo campo da suspeita, agora já começam a surgir condenações efetivas no âmbito do exercício do poder.

O exercício da política, a todos os níveis, e em todas as geografias, esta sob uma enorme suspeita. A corrupção, o compadrio, o clientelismo são atitudes frequentemente relacionadas com esse exercício. Dos políticos diz-se e pensa-se que estão mais focados nos seus interesses particulares e nos do seu grupo, do que verdadeiramente no interesse geral dos cidadãos que são chamados a servir.

Este sentir tem gerado um progressivo desinteresse pela participação política. A abstenção em atos eleitorais vai ganhando cada vez mais terreno e o descontentamento vai proporcionando o aparecimento, cada vez mais evidente, de muitos populismos e extremismos. Perigosamente assistimos como estes começam a ter voz audível, fazendo escutar coisas que julgávamos já ultrapassadas.

Sinceramente o alheamento, o desinteresse e o afastamento não me parecem ser a solução, pois esse é o terreno propício ao aparecimento de grupos e dinâmicas ainda menos transparentes e menos escrutináveis, possibilitando que o governo dos povos e das nações possa ser protagonizado por interesses ainda menos claros e mais afastados da procura do bem-comum, que é verdadeiramente aquilo que deve presidir ao exercício da política.

Nesse sentido, recupero aqui, como já fiz por ocasião das passadas eleições legislativas, algumas linhas de força presentes no capítulo V da Encíclica Fratelli Tuti, cujo título - A política melhor - bem pode servir de inspiração no exercício dos cargos políticos

O capítulo começa logo com esta forte afirmação: “Para se tornar possível o desenvolvimento duma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada ao serviço do verdadeiro bem comum. (nº 154)
Depois de refletir sobre os desafios que os populismos e os liberalismos levantam e de lembrar que é necessário repensar quer a Organização das Nações Unidas, quer a arquitetura económica e financeira internacional, para que seja realmente possível a concretização real do conceito de família de nações (cf. nº 173), surge a interrogação: “E, contudo, poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (nº 176)

E a resposta vai surgindo na forma de outras fortes afirmações: “precisamos duma política que pense com visão ampla e leve por diante uma reformulação integral, abrangendo num diálogo interdisciplinar os vários aspetos da crise.” (nº 177); “a grandeza política mostra-se quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo” (nº 177); “a sociedade mundial tem graves carências estruturais que não se resolvem com remendos ou soluções rápidas meramente ocasionais. Há coisas que devem ser mudadas com reajustamentos profundos e transformações importantes. E só uma política sã poderia conduzir o processo, envolvendo os mais diversos setores e os conhecimentos mais variados.” (nº 179); “trata-se de avançar para uma ordem social e política, cuja alma seja a caridade social. Convido uma vez mais a revalorizar a política, que é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum.” (nº 180); “na política, há lugar também para amar com ternura. Em que consiste a ternura? No amor, que se torna próximo e concreto. É um movimento que brota do coração e chega aos olhos, aos ouvidos e às mãos. (...) A ternura é o caminho que percorreram os homens e as mulheres mais corajosos e fortes. No meio da atividade política, os mais pequeninos, frágeis e pobres devem enternecer-nos: eles têm o “direito” de arrebatar a nossa alma, o nosso coração. Sim, eles são nossos irmãos e, como tais, devemos amá-los e tratá-los.” (nº 194)

Se bem que aos olhos de muitos isto possa parecer uma utopia ingénua, pelo contrário, estou profundamente convencido de que este é o caminho que devemos percorrer. Em vez de nos alhearmos do exercício da política julgo que nos devemos envolver mais e melhor, exigindo aos políticos que estejam à altura da sua verdadeira missão.

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