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A nossa casa comum é grande

Tomando consciência da situação em que a nossa casa comum se encontra tornar-se-á mais claro quais as ações urgentes que se encontram ao nosso alcance.

A nossa casa comum é grande
Carmo Diniz
03 de dezembro de 2025

A casa em que vivemos, a nossa casa comum, é uma casa grande. Com janelas abertas para podermos comunicar e tem sempre, mas sempre, a porta aberta para receber amigos.

Foi há muitos milhares de anos atrás que a nossa casa comum começou a ser construída, com água, muita luz, com vida e com o sonho de ser habitada por muitos. Ainda quando não sabíamos bem como ia ser, havia uma certeza: seria para os filhos dos nossos filhos um sítio de prosperidade, de alegria e de amor. Que alegria tão grande quando iluminámos a escuridão da noite com o fogo e quando começámos a transportar objetos pesados com uma roda, tão redonda que nos fazia pensar que podíamos chegar longe, muito longe. Quando começámos a navegar o mar descobrimos que éramos muito diferentes uns dos outros, mas também com muitas afinidades. Encontrámos cores, cheiros e sabores que partilhámos… e crescemos juntos. E parece que a nossa casa comum ficou mais pequena, na medida em que ficámos a conhecer quase todos os seus cantos.

Passados tantos anos a nossa casa comum está diferente. Desde que a força das ações do ser humano começou a interferir com a regulação da natureza aconteceu uma grande mudança. Chamamos-lhe Antropoceno – uma era geológica em que a ação do homem sobre a natureza é indiscutível. E a nossa casa comum mudou. Não sabemos ainda como vai ser, mas sabemos que o ser humano tem de mudar. Sabemos que todos os seres vivos que habitam a nossa casa comum estão a mudar, estão a adaptar-se a novas condições, porque os que não se conseguem adaptar extinguem-se. Desaparecem simplesmente, numa vertigem nunca vista – é a 6ª extinção em massa da biodiversidade que estamos a assistir.

Encontramo-nos por isso numa mudança de época, como nos falou o Papa Francisco, e esta mudança de época requer da parte do ser humano mais ainda do que todos os seres vivos estão já a fazer. Requer que cada um de nós mude. Porque é também por causa do ser humano que a época está a mudar, pondo em causa a sobrevivência de todos.

Neste contexto o que é que podemos fazer? Será que a minha pequena mudança tem algum impacto? Será que oito mil milhões de pequenas mudanças podem produzir algum resultado? Sem dúvida que sim! A consciência, a sobriedade, a amizade são três formas de o fazer, que proponho resta pequena reflexão.

A consciência do tempo que vivemos, do que sabemos, da tecnologia que alcançámos permite-nos decidir o caminho que queremos traçar. Nos tempos que vivemos conhecemos os riscos e os limites da casa comum, tanto os que já ultrapassámos e como os que estamos perto de alcançar. Tomando consciência da situação em que a nossa casa comum se encontra tornar-se-á mais claro quais as ações urgentes que se encontram ao nosso alcance. Entre elas plantar árvores e eliminar o uso de plástico.

A sobriedade na utilização dos recursos de que dispomos ajuda-nos a centrar no essencial e a garantir que os nossos pares, os nossos filhos e netos possam dispor de bens essenciais para sobreviver. Ser sóbrio é ser verdadeiro e consciente quanto às necessidades, é utilizar os recursos e bens necessários lembrando sempre a finitude inerente à nossa existência e de tudo o que nos rodeia.

A amizade pelo meu irmão, aquele a que me é dado a conviver esta finitude, permite a partilha do que posso e alimenta a fraternidade a que somos chamados. A festa da fraternidade universal diz respeito ao ser humano e a todos os seres vivos que nos rodeiam. A amizade implica o cuidado, essa ação delicada de olhar, escutar e entregar o que tenho para bem de todos. Conhecer, usar com sobriedade e partilhar.

A nossa casa é grande. Pode parecer que em certos locais estamos confortáveis e o que nos entra pelas notícias são discursos aflitos de alguns que vivem longe. Mas as janelas abertas da nossa casa fazem com que seja impossível não reparar que o sol está mais forte e que a água já não tem o mesmo sabor. As borboletas que voavam nos nossos jardins são cada vez menos e mais iguais entre si, todos os dias o números da biodiversidade diminui. Observamos cada vez mais amigos a chegar à porta e a pedir abrigo que não devemos recusar. E porque podia ser com a nossa família - poderia muito bem ser cada um de nós - a porta da nossa casa estará sempre aberta. Porque a amizade existe impressa no nosso coração e a vontade de fazer o bem faz parte de ser humano abrimos a porta desta casa grande, da nossa casa comum.

A casa comum significa que é a casa de todos os oito mil milhões de pessoas que habitam a terra e de todos os milhares de milhões de espécies de seres vivos com quem a partilhamos. Porque a festa da fraternidade universal só existe quando estivermos todos e porque procuramos corresponder ao sonho do nosso criador vivamos nesta casa comum, de janelas e porta abertas.

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