REFLEXÃO DOMINICAL
XI DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A
Escolhidos, Chamados e Enviados a ser Igreja
Irmãos e irmãs:
Demos graças a Deus, porque todos nós fomos escolhidos, chamados e enviados por Deus, através do seu Filho, Jesus Cristo, a participar na Missão evangelizadora da Igreja.
Se, na primeira Leitura, Deus nos diz que “vós sereis para Mim um reino de sacerdotes, uma nação santa”, e S. Paulo depois acrescenta que “Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores”, é, contudo, no Evangelho que fixamos o nosso olhar, para acompanhar Jesus diante das multidões fatigadas e abatidas, que andavam como ovelhas sem pastor.
1 – O olhar compassivo de Jesus.
A primeira atitude de Jesus é ver: Jesus vê, não apenas números, mas pessoas, e, mais, vê a situação das pessoas, cansadas, abandonadas, desorientadas, que vêm em multidão escutar a sua Palavra e pedir os seus milagres. Mas é esta visão que O leva à compaixão e à misericórdia: acolher no coração todas as misérias e fraquezas da humanidade, a ponto de dar a sua vida pelos pecadores.
Se as multidões estavam abandonadas, não era porque Deus as tenha abandonado, mas porque aqueles que tinham responsabilidades para com o seu povo, pensavam mais em si próprios e nos seus interesses. Jesus há-de chamar-lhes ladrões e salteadores, que não entram pela porta das ovelhas, mas antes pela janela. Deus já tinha dito: “Vou Eu próprio tomar conta das minhas ovelhas”.
E que faz Jesus? Reconhecendo a desproporção entre o que é necessário e o número escasso de trabalhadores, começa por nos convidar a pedir ao dono da seara que envie mais trabalhadores. A oração toca o coração de Deus, mas também nos leva à disponibilidade diante dos seus apelos; para não estarmos à espera de que Deus chame apenas os outros. A Missão é de todos os batizados. Assim, Jesus chamou a Si os doze discípulos, deu-lhes o seu próprio poder, e enviou-os com as instruções necessárias para realizarem a Missão, isto é, serem no mundo, a continuação da presença amorosa e salvadora de Jesus: é a Missão da Igreja.
2 – O olhar compassivo de S. Vicente de Paulo.
Ao longo dos tempos, não faltaram seguidores de Jesus que se sentiram chamados e enviados a esta Missão. No século XVII, S. Vicente de Paulo foi capaz de “ver” as multidões abandonadas, famintas e sofredoras que Deus foi colocando diante dos seus olhos. E o seu olhar fê-lo ter os mesmos sentimentos de Jesus e a dedicar a sua vida a toda a espécie de necessidades e misérias que ia encontrando: desde as crianças abandonadas, aos mendigos, aos condenados às galés, às vítimas da guerra, ao pobre povo do campo, abandonado a si mesmo até religiosamente, aos sacerdotes mal preparados para a sua missão… Nada ficou fora da sua acção.
Dizia que a caridade deve ser, não apenas afetiva, mas também efetiva, isto é, feita, não apenas de bons sentimentos, mas concreta e real para tirar o pobre da sua miséria: “Enviou-me a evangelizar os pobres”, é o lema da Congregação que fundou. E aos missionários dizia: “Amemos a Deus, meus irmãos, amemos a Deus, mas que seja com o esforço dos nossos braços e com o suor do nosso rosto”.
3 – O nosso olhar compassivo.
A missão de Jesus continua e nós estamos metidos nela desde o nosso Batismo: Temos consciência disso? O que veem os nossos olhos, com que palpita o nosso coração? Os tempos de pandemia e confinamento trouxeram mais dificuldades aos que já as sentiam. Diante de tanta gente só e abandonada, diante de tantos que ainda não conhecem o amor de Jesus por eles, também precisamos de nos sentir chamados, escolhidos e enviados. Padres ou leigos, consagrados ou simples batizados, jovens ou idosos, casados ou solteiros, saudáveis ou doentes, todos estamos na mesma Missão, conforme a vocação a que Deus chama cada um: proclamar que está perto o reino de Deus, curar os enfermos, sarar os leprosos, libertar de tantos “demónios” que consomem a vida dos nossos irmãos… No fundo, trata-se de amar como o próprio Jesus fez.
“O amor é inventivo até ao infinito”, dizia S. Vicente de Paulo. Nestes tempos de pandemia, sempre arranjaremos forma de não deixar ninguém para trás, isto é, sem o apoio necessário a uma vida digna. É o compromisso que nos é pedido aqui e agora, como cristãos que estão no meio do mundo, à maneira de fermento, para tornar melhor esta sociedade em que hoje nós vivemos.
P. José Carlos
(14/06/2020)