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Mulher com a Bíblia

REFLEXÃO DOMINICAL

SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE JESUS

Ordenação Sacerdotal 

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D. Augusto César

Bispo

Caro Padre Visitador, demais confrades e amigos


Estamos aqui reunidos, em primeiro lugar, para louvar o Senhor e dar-Lhe graças pela festa que celebramos, neste dia – o “Corpo de Deus”! E o que nos diz esta festa? Duas coisas fundamentais: ensina-nos a saborear o “pão do céu”, à conta da revelação de Jesus – “Eu sou o pão vivo… quem comer deste pão viverá eternamente”; e à conta do Sacramento realizado na última Ceia: “Tomai e comei, isto é o Meu corpo”… “Tomai e bebei, este é o cálice do Meu sangue”. E, a seguir, acrescentou: “Fazei isto em memória de Mim”!  - Ora, esta é a razão do nosso sacerdócio.
Depois, ao falar desta festa, sentimo-nos unidos, uns aos outros, como membros e como irmãos. Como membros dum só corpo, de que Cristo é cabeça…e como irmãos, exercitando entre todos uma verdadeira fraternidade. 
Agora, tendo consciência de que não nascemos por decisão própria… também os nossos pais (carinhosos e sempre dedicados) sabiam e continuam a saber que não são donos. Por isso, cabe-nos agradecer a Deus o ‘dom’ gratuito da nossa existência, colocando nas Suas mãos o futuro que nos espera, desde o tempo à eternidade;  - mas, sempre, confiadamente e com dedicação e esforço!
Todavia, é preciso ter em conta o seguinte: o tempo de hoje desafia a nossa fé de modo singular; pois, leva-nos até ao extremo da ‘globalização’, por conta da ‘pandemia’ e dos seus numerosos e graves resultados: contagiados sem conta… mortes numerosas e diárias… derrapagem económica… muitos desempregados… famílias debilitadas… Depois, sabendo nós como se tem falado da “eutanásia”: com uma linguagem banal… com desprezo pela velhice… e com a ausência propositada de Deus…  achamos que tudo isto merecia uma resposta adequada - e a própria natureza se encarregou de a dar!

 

Assim, diante deste panorama, cabe-nos olhar para o Sacrário com devoção e humildade, e cantar com gratidão: “Meu Deus, eu creio… adoro… espero… e amo-Vos”… peço-vos misericórdia a favor dos que sofrem e perdão para os que fazem sofrer! E a fim de compreendermos o sentido destas palavras, temos necessidade de recordar a última Ceia e, de novo, as palavras finais, ditas por Jesus: “fazei isto em memória de Mim”!

Entretanto, convém lembrar o nosso baptismo, passando os olhos pela água do Jordão. Pois, aí, João Baptista serve-se dum gesto quase sacramental, para exprimir a conversão do coração e a remissão dos pecados. E Jesus (sem necessidade de conversão nem de remissão dos pecados), exprime a sua condição Messiânica, na qualidade de profeta, rei e servo… e, por aí, decide a condição dos seus discípulos. Na realidade, quando somos baptizados, começamos a participar do ‘apostolado’ de Jesus e a sentir-nos membros duma Igreja ‘missionária’. 
Será por isso que o Papa Francisco nos previne do mundanismo e nos estimula através duma fraternidade sem fronteiras e com rosto sorridente de caridade? Pelo menos, assim o vemos actuar e sentimos que a sua convicção é verdadeiramente ‘sacramental’. Então, que Deus o abençoe e nos faça seus imitadores.

 

A segunda razão da nossa presença, neste lugar abençoado e cheio de saudades… é a ordenação sacerdotal do Diácono João Miguel Silva Soares; pois, embora a sua realização estivesse prevista para muito antes, com datas possíveis e lugares marcados… não pôde efectuar-se, devido ao ambiente epidémico, cheio de risco e bastante generalizado.

 

Agora, mediante um diálogo oportuno, entre o Padre Visitador e o Bispo da Diocese, pode realizar-se neste ambiente ‘familiar’ e com a família presente. Digo neste ambiente familiar, por se tratar dum confrade vicentino e o bispo ordenante ser vicentino também. E a família presente, refere-se à pessoa dos pais e alguns familiares, que acompanham jubilosamente a ordenação, e dão graças a Deus por terem um filho sacerdote.
E será que a vocação dos filhos ajuda a compreender a vocação dos pais? Na realidade, uns e outros são chamados, embora por caminhos diferentes. E chamados para quê? Para dar testemunho da sua fé baptismal, mediante atitudes apostólicas adequadas. Com efeito, quando Deus chama, também envia. Assim, os pais são chamados a testemunhar, entre si, o amor de Deus e o serviço fraterno; e a dar aos filhos a lição da sua vida e o testemunho da sua fé. Por sua vez, os filhos hão-de saber testemunhar e agradecer o exemplo dos pais; e quando chamados ao sacerdócio, cabe-lhes praticar o que Jesus deixou dito: “assim como Eu fiz, fazei vós também”… e, ainda, numa linha sacramental: “fazei isto em memória de Mim”!
Ora, tudo isto deve ser exercitado segundo o espírito do Pai Nosso. Isto é: sem distâncias e ao encontro dos irmãos. E olhando para S. Vicente de Paulo, temos um exemplo, em forma de parábola: sempre de saída e com os olhos nos mais pobres… Senão, oiçamos o que ele diz ao regressar duma missão feita em ambiente rural: “as portas da cidade (refere-se a Paris, onde acaba de regressar) deviam cair sobre mim, à conta do que a paróquia ficou a murmurar: - “tu vais embora, quando há outras paróquias que esperam de ti a mesma formação…e tu deixa-las ficar no esquecimento”!
De facto, o zelo pastoral não depende do nosso gosto, mas da nossa consciência de missão. Basta dar atenção aos Actos dos Apóstolos e fazer como a Igreja do começo: repartindo pelos pobres os dons recebidos e aproveitando-se da perseguição, para evangelizar os pagãos! É certo que S. Vicente de Paulo começou doutra maneira: dando atenção aos nobres, em ordem a garantir o seu futuro e o da sua família… Mas depressa se deixou atrair pelos pobres… pela evangelização do ambiente rural… pelas crianças expostas ou abandonadas… e pela formação do clero mais humilde. E se algumas vezes sofreu manifestações de ‘gozo’, por mostrar um coração tão compassivo, nem por isso se arrependeu. Antes, desviando os olhos na direcção do Mestre divino, ia repetindo as palavras mais sonoras, que Ele pronunciou desde a Cruz: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”! E continuava a servir com humildade e doação generosa. 

 

Entretanto, à medida que os colaboradores iam aumentando, começou a respirar um ambiente comunitário, e a sentir necessidade de dizer assim: em casa, procuremos um ambiente de silêncio e oração (à semelhança dos ‘cartuxos’) e fora, entreguemo-nos a uma acção evangelizadora e cheia de zelo, à semelhança dos ‘apóstolos’. E foi assim que surgiu a chamada “Congregação da Missão”, hoje espalhada pelo mundo.
Caro João Soares, ao receberes, agora, a ordenação Presbiteral, agradece a Deus o ‘dom’ do chamamento e a ‘graça’ da missão que te é confiada…procura atrair, com solicitude fraterna, outras vocações semelhantes à tua…e confia a tua vida ao sabor do Evangelho, ouvindo de Jesus o convite que te é feito e a nós também: “assim como Eu fiz, fazei vós também”! E agradece aos teus bons pais o testemunho de vida que te deram… a doação generosa com que te ajudaram a caminhar por conta da formação e da fé… e a alegria da acção de graças que partilham contigo, neste dia. 
A Congregação da Missão está contigo…e a Igreja abençoa a tua doação e entrega. E S. Vicente de Paulo olha para ti com ternura celeste. Aceita, também, o nosso abraço fraterno.

 

Seminário de S. José, 11 de Junho de 2020

+ Augusto César
 

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