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A Igreja missionária na cultura digital. Uma reflexão urgente para a «Igreja pós-covid»

Se dúvidas houvesse, experimentámos como a internet já estrutura o nosso quotidiano e a conceção de tempo, espaço, pertença ou memória, com profundas alterações na relação entre Igreja-sociedade e fé-vida. Uma novidade? Não.

Pedro Guimarães, CM
05 janeiro de 2021

A primeira Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais (2014) fala-nos do “uso pastoral da internet”, afirmando que o nosso «testemunho não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros “através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana”».

Em plena pandemia, somos, já, capazes de reconhecer que uma das suas consequências, foi “trazer à superfície” a certeza de que vivemos uma nova era (Laudato Si, n. 102), marcada pela aceleração sem precedentes da tecnologia na vida de pessoas e sociedades. Se dúvidas houvesse, experimentámos como a internet já estrutura o nosso quotidiano e a conceção de tempo, espaço, pertença ou memória, com profundas alterações na relação entre Igreja-sociedade e fé-vida. Uma novidade? Não. Pelo menos se tivermos em conta os documentos da Igreja, sobretudo, a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965), acerca da atenção aos sinais dos tempos e ao impacto da tecnologia da vida da pessoa (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, por exemplo). É esse dever de investigar a todo o momento os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho para responder, de modo adaptado, a cada geração e às suas perguntas sobre o sentido da vida (Gaudium et Spes, 4), que nos parece importante sublinhar alguns desafios que nos permitam encontrar novas respostas para novos problemas:

O digital divide: estamos diante, não só de um fosso geracional entre “os que nasceram e não nasceram na época da internet” (nativos e migrantes digitais), como também da constatação do fosso entre os que têm e os que não têm condições de acesso à mesma, ainda hoje, entre nós. O mais interessante é que, em geral, são aqueles que não nasceram no tempo da internet que se sentem pedras vivas das nossas comunidades. Por isso, a verdadeira questão, mais do que nos fixar em “dominar a técnica”, é saber até que ponto as nossas comunidades estão dispostas à conversão pastoral (Evangelii Gaudium, n. 27s);

A cultura digital: se, antes, os meios de comunicação “serviam” essencialmente para construir opiniões e saber notícias, agora, permitem à pessoa realizar o que a carateriza, como ser relacional: partilha, participa, narra, representa… é o tempo das redes sociais. Concretamente, e numa linguagem de igreja, passou-se de uma comunicação do púlpito para a mesa redonda. Uma imagem que nos pode ajudar a perceber a forma como definimos os projetos e dinâmicas pastorais nas nossas comunidades (Evangelii Gaudium, n. 235ss);

A pastoral do tecido novo em pano velho: conscientes de que o Espírito Santo atua, mesmo no meio da nossa inoperância ou boa vontade, não podemos deixar de reconhecer que assistimos, em geral, a um “copy-paste” de dinâmicas pastorais do ambiente físico para o digital. Contudo, «não basta circular pelas “estradas” digitais, isto é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2014).

Neste tempo em que a Igreja contempla e celebra o mistério de Deus que nos fala através do seu Filho (Dei Verbum, n. 4), a resposta a estes (e outros) desafios da evangelização na cultura digital será dada com o olhar dos discípulos de Jesus… no próximo encontro.

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