PROJECTO PROVINCIAL 2020 - 2023
Desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm muito para nos ensinar. Além de participar do sensus fidei, nas suas próprias dores conhecem Cristo sofredor. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles.
(Evangelii Gaudium, 198)
Fidelidade. Renovação. Compromisso.
“Com São Vicente, seguimos Jesus”
INTRODUÇÃO
O Visitador da Província Portuguesa da Congregação da Missão, juntamente com o seu Conselho, e dando cumprimento ao número quatro dos Estatutos Provinciais, elaborou o presente Projeto provincial para o triénio 2020-2023. Comprometido com a identidade vicentina, caraterizada também por uma contínua atenção aos sinais dos tempos, este Projeto incarna as orientações da Assembleia Provincial de 2019. Estrutura-se em três objetivos gerais – fidelidade, renovação e compromisso – e concretiza-se em linhas de ação que respondem ao mandato de Jesus (Lc 4,18) assumido por São Vicente de Paulo.
OBJETIVOS GERAIS PARA O TRIÉNIO 2020-2023
1. Reforçar a FIDELIDADE ao carisma vicentino como garantia de identidade diferenciadora nas diversas atividades pastorais.
2. Promover a RENOVAÇÃO dos agentes pastorais da Família Vicentina (FamVin), em especial os membros da Província Portuguesa da Congregação da Missão (PPCM), através de uma pastoral vocacional vicentina criativa e interpelante.
3. Intensificar o COMPROMISSO com um modus operandi vicentino na vida comunitária e na ação missionária.
ESTRATÉGIA PARA O TRIÉNIO 2020-2023
1. FIDELIDADE
1.1. FORMAÇÃO INICIAL E PERMANENTE: a vocação que assumimos na Igreja exige uma formação específica, não apenas na fase inicial, mas ao longo de toda a nossa vida. Como em todas as áreas do saber, hoje em especial, numa época de rápidas mudanças, somos instrumentos de evangelização. O padre é chamado a ser um especialista nas coisas de Deus, um mistagogo, um peregrino que mobiliza outros peregrinos para que não se conformem com as coisas deste mundo e procurem o que oferece a verdadeira vida (cf. Rom 12,2). Por isso mesmo, ele deve permanecer num constante processo de aperfeiçoamento espiritual, humano e de contínua atualização. Não deve, apenas, dominar os conteúdos e estratégias para transmissão da Boa Nova, mas, por si só, ser um sinal da encarnação dessa mensagem. Áreas como a Doutrina Social da Igreja, a espiritualidade, estudos bíblicos, liturgia, teologia prática e comunicação são excelentes campos de realização da identidade vicentina.
1.2. MISSÕES POPULARES: a mudança de época pede-nos a reformulação, ensaio e proposta destas estruturas como válidas para o êxito da reanimação missionária de uma comunidade. As missões são “o coração” da atividade missionária vicentina. Como podemos aplicar o modelo das missões populares vicentinas, adaptando-o às novas necessidades pastorais? Hoje, grande parte dos jovens católicos comprometidos participam ativamente em experiências missionárias promovidas por institutos religiosos e diocesanos. Qual tem sido o nosso contributo? Quem são os agentes disponíveis? Quais as estratégias a utilizar para que a PPCM continue a ter uma palavra nesta área?
1.3. MISSÃO AD GENTES: a missão é um evento dinâmico, pelo que, dando continuidade à missão histórica em Moçambique, a PPCM procurará alargar a sua ação, iniciando a colaboração com a Missão Internacional em Angola.
1.4. PARÓQUIAS: a presença vicentina nas áreas pastorais paroquiais pode ser um meio privilegiado para servir a Igreja através do nosso carisma; enquanto o promovemos, alargamos o grupo de colaboradores identificados com a causa vicentina. Neste sentido, em fidelidade ao carisma, todas as comunidades paroquiais sob o cuidado dos Padres Vicentinos devem promover ativamente os diversos Ramos da Família Vicentina e o seu acompanhamento espiritual. Por outro lado, tenha-se em conta o referido no documento final da Assembleia Provincial 2019: “os destinatários da nossa atividade pastoral são os pobres, isto é, a população mais fragilizada, não apenas economicamente, mas também aqueles que padecem de fome de Deus. Para além disso, as paróquias vicentinas devem ter uma pastoral missionária inclusiva através da qual os ‘excluídos’ são também protagonistas da ação evangelizadora”.
2. RENOVAÇÃO
2.1. CULTURA VOCACIONAL: para dar resposta às necessidades da Igreja e do mundo, a atual falta de efetivos, leigos e consagrados, leva-nos a colocar como prioridade a concretização de uma cultura vocacional. Esta área de ação da PPCM deve assumir, como missão, a criação e divulgação de conteúdos, a promoção de retiros e outras experiências de encontro, o acolhimento nas nossas comunidades e o acompanhamento do processo de discernimento de possíveis candidatos.
2.2. PASTORAL VOCACIONAL: reconhecemos que, sozinhos, as probabilidades de sucesso são inferiores. Neste sentido, o responsável pela pastoral vocacional deve trabalhar em articulação com os diferentes animadores da Família Vicentina, tendo em vista a maximização das estratégicas para potenciar resultados mais satisfatórios. Com efeito, o acompanhamento dos leigos que vivem já a espiritualidade vicentina é fundamental para que possamos apoiar no discernimento quando se colocarem as inquietações vocacionais.
2.3. COLABORAÇÃO AD GENTES: preconiza-se a abertura da PPCM a seminaristas vindos de países de língua portuguesa, em especial de Angola, uma vez que nesses locais há carência de estruturas de formação sacerdotal. É um contributo que podemos dar à Igreja local, em moldes diferentes do que em períodos anteriores demos aos países de língua portuguesa. Em paralelo, é desejável, também, o acolhimento de sacerdotes de outros países para um tempo de formação e missão em Portugal em vista da concretização do princípio da multiculturalidade enunciado na Assembleia Geral de 2016.
2.4. COMUNICAÇÃO: os novos tempos requerem novas linguagens e novas estratégias de comunicação que, mantendo a fidelidade ao Evangelho e ao carisma de São Vicente de Paulo, possam ajudar a atingir todos os destinatários da nossa ação pastoral e fazê-lo de uma forma mais eficaz, eficiente e efetiva.
3. COMPROMISSO
3.1. VIDA COMUNITÁRIA: como missionários, somos chamados a agir no mundo. Esta dimensão secular faz parte do nosso ADN. No entanto, ela não pode apagar a dimensão comunitária, como elemento estruturante do nosso ser vicentino (cf. CC. 1-9). Neste sentido, procuraremos concretizar os pontos referentes à vida comunitária, expressos no documento final da Assembleia Provincial 2019. A reconfiguração apontada obrigará à reorganização da vida comunitária, não devendo, para isso, as comunidades ser constituídas com um número inferior a três membros.
3.2. VIDA APOSTÓLICA: procuraremos aprofundar o modo de ser e agir vicentino à luz das Constituições (cf. CC. 19-27), vivendo sobriamente, dando testemunho da vivência das cinco virtudes propostas por São Vicente de Paulo, fazendo nossas as dores e as alegrias dos mais pobres e excluídos.
3.3. FORMAÇÃO: compromisso na formação permanente dos agentes pastorais (sacerdotes e leigos), conferindo-lhe um caráter vincadamente vicentino.
3.4. COLABORAÇÃO VICENTINA: reforçaremos o compromisso com a causa dos mais pobres. Se possível, fá-lo-emos através de parcerias com instituições que trabalham na área, incluindo, e em primeira linha, o compromisso com as obras dos vários Ramos da Família Vicentina.
LINHAS DE AÇÃO PARA O TRIÉNIO 2020-2023
O Conselho Provincial, em conformidade com as Constituições, refletindo sobre os documentos finais da Assembleia Geral de 2016 e da Assembleia Provincial de 2019, propõe as seguintes concretizações:
1. Dinamização da pastoral vocacional, reforço do acompanhamento dos candidatos e implementação de uma cultura vocacional vicentina;
2. Promoção da formação inicial e permanente com marca vicentina, contribuindo para o fortalecimento da relação com os outros ramos da Família Vicentina;
3. Revitalização das comunidades como espaço de realização humana, de crescimento espiritual e de comunhão fraterna;
4. Reconfiguração da presença em Felgueiras, para que haja uma só comunidade;
5. Reavaliação da presença nas dioceses de Santarém, Vila Real e Viseu, definindo, com o bispos diocesanos, tempos e metas de ação concretos;
6. Reformulação e propostas das missões populares vicentinas em diferentes formatos;
7. Participação no esforço missionário da Igreja através das missões ad gentes em Moçambique e Angola;
8. Criação do Grupo de Comunicação - da e para a Missão - que inclua o mundo digital e o formato mais tradicional;
9. Estudo e, se possível, criação de uma obra vicentina de relevância social, destinada à população doente, carenciada e/ou excluída;
10. Construção da nova casa provincial, em Lisboa.
CONCLUSÃO
“O fim da Congregação da Missão é seguir Cristo evangelizador dos pobres” (Constituições, n.º 1). Fiéis a São Vicente de Paulo, o presente Projeto provincial pretende corresponder aos apelos da Igreja bem como dar um contributo para a transformação da sociedade geral, em conformidade com o carisma da Congregação da Missão.
A conclusão deste Projeto apenas se atingirá fomentando um processo de participação de todos os confrades nas decisões necessárias para uma atual vivência do carisma vicentino. Estamos conscientes que os tempos são exigentes e, por isso mesmo, apenas unidos e em espírito de caminhada sinodal, poderemos fazer as opções que “gerem novos dinamismos na sociedade e comprometam outras pessoas e grupos capazes frutificar em acontecimentos históricos importantes” (cf. Evangelii Gaudium, n.º 223).