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XXXII Domingo do Tempo Comum

Jesus fala-nos este Domingo do Reino dos Céus a partir da parábola das 10 virgens que foram convidadas para o banquete nupcial. Enquanto esperavam o esposo, adormeceram... Quando este chegou, umas estavam preparadas, outras não para entrarem no banquete. O que é que Jesus nos quer dizer com estas palavras? Contamos, para isso, com o contributo do Pe. João Soares.

Caros Irmãos, nos tempos que correm é muito frequente nos casamentos usarem-se as damas de honor. Ora, apesar de olharmos para elas como algo bonito para o figurino, ou como uma moda inútil, podemos acreditar que muitas das noivas que optaram por ter damas de honor encontraram no Evangelho deste Domingo algum fundamento. Ainda dentro da linguagem dos casamentos, vemos neste relato evangélico uma certa justificação sobre os atrasos que estas circunstâncias especiais, como um casamento, podem provocar.

Mas, vamos por partes: que significam estas virgens e por que é que desta vez é o esposo a não chegar a horas? A resposta a estas perguntas encontra-se na Igreja, nessa Igreja a que todos nós, batizados, pertencemos. Essa Igreja que é essa esposa que espera o seu Senhor, que é Cristo. Ele vem quando menos se espera, porque o seu tempo não é o nosso e daí a paciência da donzela e das suas companheiras. Elas sabem o porquê da espera e a importância da mesma. Elas sabem que a sua vida depende desse grande momento que é o encontro com Deus.

Não será que connosco acontece da mesma forma? Também nós andamos à procura desse encontro transformador. Do encontro que nos permite encontrar-nos com Deus e esclarecer aquela dúvida, tal como dizia Mitterrand quando lhe perguntavam o que diria a Deus quando se encontrasse com ele no céu, ele responde dizendo: “finalmente, já sei”. É este “finalmente” que faz ganhar as forças para poder acreditar e permanecer esperando a vinda do Senhor Deus.

Mas se até aqui percebemos quem espera, por que espera e a quem espera, o texto dá-nos algumas pistas mais sobre nós, ou seja, sobre as damas de honor que esperam o Senhor. Diz-nos que eram 10 virgens, das quais 5 eram prudentes e 5 eram insensatas. Diz-nos, ainda, que quer as insensatas quer as prudentes tiveram a mesma reação face à demora do esposo, que foi adormecer. A mudança ocorre quando chega o esposo. As insensatas esquecem-se das reservas de azeite nas suas lâmpadas e correm o risco de não poderem acompanhar o esposo. Esta atitude mostra que todos nós estamos sujeitos a não conseguir esperar os Senhor despertos. Jesus sabe a dificuldade que é manter-se vigilante e, por isso, insiste que todas ficaram rendidas ao sono. Quem de nós pode dizer que não passou horas e dias de descuido, de esquecimento da vinda do senhor? Mas isso não significa que não O possamos alcançar. O sono do cansaço é normal de quem vigia o seu Senhor, como aconteceu às virgens prudentes. O que realmente pode correr mal é se não estamos preparados, ou seja, se nos deixamos estar relaxados, confiando nas nossas próprias seguranças.

Assim, quando o grito do esposo rompe o silêncio da noite, com a sua chegada, todas as virgens que estavam adormecidas acordam do sono e preparam as suas lâmpadas. Mas as imprudentes, vendo que não tinham azeite suficiente, foram pedir às prudentes um pouco do azeite delas. E estas negaram-lho. “Talvez não chegue para nós e para vós”. Será esta uma atitude egoísta? Ou uma falta de caridade? Não! Simplesmente este azeite pertence a cada um de forma pessoal. Ninguém nos pode proporcioná-lo. É o azeite do desejo de encontrar-se com o Senhor. Cada um de nós conhece (ou deveria conhecer) a sua própria verdade, a verdade mais profunda, aquela verdade que mantém o coração desperto, ou ao contrário, aquilo que nos apaga da espera do Senhor. Todos os dias, bons e maus, velando ou dormindo – eu durmo, mas o meu coração vigia. Somos responsáveis por renovar as nossas reservas de azeite, de forma a que o nosso coração arda com o desejo do verdadeiro encontro com Deus.

Mais do que esperarmos a descrição do juízo final neste Evangelho, vemos a discrição do juízo diário, ou seja, vemos a forma como devemos estar preparados para este encontro com o Senhor que se dá todos os dias neste tempo que é pura graça.
Não nos esqueçamos de ser estas damas de honor prudentes que, juntamente com a Igreja, esposa de Cristo, esperam o seu Senhor. Só nos cabe a nós escolher em que grupo queremos estar. E prestemos real atenção porque, apesar de tudo, as jovens insensatas também sabiam bem o que era necessário, tanto que acabaram por ir à porta do banquete. O problema é que chegaram tarde e a más horas. Não deixemos para a última. Perguntemo-nos diariamente como estão as nossas reservas de azeite? Um dia de descuido pode ser tarde e a porta pode fechar-se e o noivo não nos conhecer. Não deixemos que a nossa vida Cristã seja marcada pela insensatez. Preparemo-nos para o imprevisto, tenhamos um Plano B. Não deixemos que a descontração se transforme em distração e as oportunidades para este encontro com Deus sejam adiadas.

Por fim, deixo-vos um conselho pessoal: quando acharmos que temos a nossa reserva de azeite cheia, desconfiem, pois pode ser um sinal de puro convencimento da nossa própria insensatez. A reserva é sempre pouca para aquilo que Deus tem para nos oferecer no seu banquete.

Pe. João Soares, CM
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